O silêncio das pedras

por Natacha Cortêz

Curta feito por três amigas fala de mulheres e foi inspirado na fotografia de Sally Mann

O silêncio das pedras é um curta-metragem feito por três amigas: Laís Silveira, a produtora; Camilla Loreta, diretora e Luisa Conde, diretora de arte. Todas com seus 23, 24 anos, começando seus primeiros passos no cinema. 

É ainda a primeira vez que Camilla grava um filme todo em 35mm. O curta tem no elenco a atriz Ana Carolina Lima e Paloma Veridianna Guinatica, no papel da protagonista. A jovem diretora tem ainda outro curta no currículo, Clara, que estreia no Festival Universitário do Rio. Camila é um nome pra ficar de olho em 2014. 

Conversamos com a diretora sobre a experiência de filmar O silêncio das pedras

Tpm. Como surgiu a ideia do curta? 
Camilla. Me formei em um curso de graduacao de Crítica e Curadoria de arte. Na época, há uns dois anos, eu estava numa aula de jornalismo/documentário e revi as fotos da fotógrafa Sally Mann. Ela fez diversas séries de fotos com os filhos, e a maneira que ela captava aquelas crianças me encantou. Dai meu processo de roteiro se completou, acontece bastante isso comigo, eu vejo uma imagem que me comove e escrevo o roteiro de uma só vez. 

Então foram as fotos que te inspiraram a criar a história? Sim, as fotos da Sally Mann me parecem ter uma questão meio posada, violenta e fantasmagorica. E disso imaginei um clima esquisito, onde as coisas parececem meio estranhas. Ai a historia foi consequência, uma espécie de esqueleto para esse mistério que povoava a vida dos personagens.
 
E por que pedras? Entao, isso foi coisa de uma amiga minha, a Marina, que fez monografia nesse curso de curadoria que eu fiz, sobre Lygia Clark. A Lygia teve um período no qual fazia um tipo de terapia com diversos elementos tocando o corpo das pessoas, saquinhos plasticos com agua, pedras… Ela nem chamava de arte, mas aquilo me interessou bastante, a vivência do corpo com elementos externos. Ai juntou as duas coisas, por que foi mais ou menos na mesma época. As fotos a Sally Mann são todas em um sítio, sempre em uma paisagem orgânica, onde os personagens se relacionam com o ambiente. Essas coisas juntas faziam sentido para mim. A Clarice, que é a personagem principal do curta, foi surgindo dai. Ela seria uma pessoa com uma relação íntima e fundamental com o ambiente onde cresceu, que no caso é uma casa isolada da cidade. A Clarice não sai da casa o filme inteiro, por que ali é o lugar dela, e o som do filme é todo pensado com sons próprios daquele mundo, tanto que nunca tem trilha, nem sons que possam parecer artificiais. A Clarice está sempre imersa.

E por que 4 mulheres, uma delas protagonista, e só um homem? No caso um menino. Eu acabei me encantando pelo trabalho dessas duas mulheres, Sally Mann e Lygia Clark, e acho que isso acabou me contaminando. E também acho que esse clima obscuro é parte de mim mesma, e da minhas crises femininas, o filme fala das minhas inquietações com o mundo, tanto que atuo no filme. E o menino foi bem inspirado no meu irmão quando pequeno.

Você é a menina de regata branca? E é a única da equipe que atua? Sim sou eu, e sou a única da equipe que atua.

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