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por Gabriela Sá Pessoa

A editora Maria Lutterbach fala sobre o negócio em que se jogou quase sem querer

A história da editora Maria Lutterbach com os book trailers começou quase sem querer. Oficialmente, foi em janeiro de 2013. Mas para entender como essa história se desenrola (e o que, afinal, é um book trailer) é preciso voltar ao ano passado, quando ela conheceu o sócio e namorado Iván Larraguibel, durante o mestrado em editoração que fez em Barcelona. Graduada em jornalismo, ela se mudou para a cidade catalã para desenvolver um projeto sobre livros artesanais. “Quando o apresentei para meu orientador, ele me disse para procurar o Iván. Ele tinha feito o mesmo máster que eu alguns anos antes e já tinha criado a micro editora Mínimas”, conta. Iván acabou gostando do projeto final de Maria – a edição de Bonecas, livro de Duda Fonseca –, tanto que resolveram apostar nele juntos. No começo deste ano, o publicaram no Brasil e trouxeram a Mínimas para cá.

Eis que surgiu uma questão fundamental: como divulgar um livro de editora e autor estreantes? “Eu trabalhava como editora de sites, então já entendia que contar histórias em vídeos é um ótimo jeito de chamar a atenção das pessoas”, lembra Maria. O casal pediu equipamento emprestado a uma amiga que também ajudou nas filmagens, chamou outras para vestir máscara de bonecas e foi às ruas de São Paulo gravar imagens que transmitissem o espírito do livro em um vídeo de um minuto e meio. 

No fim, haviam criado seu primeiro book trailer. “A gente tinha que pendurar a melancia no pescoço, senão a coisa não ia dar em nada”, conta Maria. E aí, deu: a Companhia das Letras viu o vídeo, gostou e encomendou à Mínimas um daqueles para divulgar a antologia de Paulo Leminski, editada recentemente pela casa.

O que começou como uma produção totalmente experimental virou um novo negócio para a microeditora. “Esse tipo de criação ainda é bem incipiente, mas encaro como algo natural do surgimento das redes. Na minha opinião, é a forma mais eficaz de divulgar os livros, especialmente entre o público mais jovem”, comenta Maria Lutterbach. 

Por ser um gênero recente e com poucas restrições técnicas (em tese, basta saber mexer com edição de vídeo), existe de tudo quando o assunto é book trailer, já adotado por grandes editoras estrangeiras. De animações a vídeos com autores lendo trechos do livro em voz alta; de defensores que acreditam ter encontrado o futuro do mercado editorial a escritores que julgam ser incapaz resumir uma narrativa de 300 páginas em um vídeo curtíssimo.

Aposta
Profissionalmente, a sócia da Mínimas acredita que a empresa seja a única no país a trabalhar com o formato da maneira como fazem: apostando em direção de arte, roteiro, trilha sonora acertada e em nomes famosos para atrair o público. A proposta tem dado certo e garantiu trabalhos com a Companhia, a editora Rocco e mais outras duas casas estão em negociação.

O trabalho sobre Leminski, por exemplo, brincou com o icônico bigode do poeta em cenas cotidianas cheias de bossa acompanhadas pela voz de Arnaldo Antunes lendo alguns de seus versos. Com mais de 45 mil visualizações no Youtube, o vídeo conquistou novas encomendas para a Mínimas. De março para cá, a empresa já filmou trailers sobre Paulo Mendes Campos, Joca Reiners Terron e foi contratada para homenagear o centenário do poeta Vinícius de Moraes em uma websérie mensal em quatro capítulos para a Companhia das Letras, gravados no Rio de Janeiro e narrados pelo músico Rodrigo Amarante. “Fizemos um roteiro baseado em temas caros ao Vinícius, ‘mulher’, ‘amizade’, ‘crença’, ‘música’ e ‘amor’. A partir disso, fomos atrás dos poemas”, explica Maria.

O primeiro deles, lançado no mês passado, se inspirou no poema "A mulher que passa". O segundo, baseado em "Ternura", acaba de ir ao ar e você vê em primeira mão aqui na Tpm, no vídeo abaixo.

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