A história da arma AK-47

por Fernando Paiva
Trip #133

Ra-ta-ta-ta!!! Rajadas da História

AK-47, a arma da tigrada, chega ao Brasil com a biografia de seu criador - Mikhail Kalashnikov. Nosso repórter leu o livro e testou o fuzil.

De uns tempos para cá, virou moda falar do AK-47. Gente incapaz de diferenciar uma Luger de uma barra de cereal fala do fuzil de assalto soviético como se houvesse passado a infância brincando com um. AK é a sigla de "Avtomat Kalashnikova", e 47 refere-se a 1947, ano em que foi adotado pelo Exército Vermelho da URSS. Utilizado por guerrilheiros dos movimentos de libertação nacional nos anos 60 e 70, tornou-se ícone da rebeldia. Yasser Arafat disse que sem o AK-47 a Al Fatah não existiria. Por ordem da Frelimo, sua silhueta foi incluída na bandeira de Moçambique. Hugo Chávez encomendou agora 100 mil deles. É a arma da tigrada.

Para tornar o AK ainda mais famoso no Brasil, a editora Jorge Zahar acaba de lançar Rajadas da História. Trata-se de um depoimento do criador da arma, general Mikhail Kalashnikov, à jornalista franco-russa Elena Joly, que adota a grafia Kalachnikov. É um livro de história russa e de aventuras, gostoso de ler, narrado de forma franca e direta por quem comeu o pão que Stálin amassou. E que, mesmo assim, aos 85 anos, ainda fala com saudades do comunismo.

Kalashnikov passou a infância na Sibéria, para onde foi deportado com os pais, e de onde fugiu a pé (!) duas vezes. Lutou contra os alemães durante a Segunda Guerra e foi ferido gravemente. Enquanto se recuperava, bolou o fuzil que o tornaria célebre. Em 1997, quando o AK virou cinqüentão, tive a oportunidade de testar duas versões, soviética e chinesa, no campo de provas da CBC - Companhia Brasileira de Cartuchos, em Ribeirão Pires, SP.

O AK-47 impressiona pela rusticidade. Lembra uma pá, uma enxada. Coisa para analfabeto de pai e mãe manejar. Não foi à toa que, com ele, os vietcongues botaram os americanos para correr. Você encaixa o inconfundível carregador (pente) curvo de 30 cartuchos, insere a bala na câmara e o bicho está pronto para funcionar. Um seletor permite escolher entre fogo semi-automático (tiro a tiro) ou automático (rajadas). É aí que começa o terror.

Antes dele, eu já convivera com diversas armas civis de bom calibre: revólver 357 Magnum, carabina 44, escopeta calibre 12. Mas tudo isso virou brinquedo quando apertei o gatilho. Mesmo com abafador nas orelhas, aquele som seco, rascante entrou ouvido adentro, gelando a espinha. Imaginei um combate onde dezenas de AK-47 pipocassem ao mesmo tempo. Enquanto atirava, imagens das ruas de Sarajevo, das selvas do Congo e do deserto afegão enchiam minha cabeça. Deus me livre de ficar na frente de uma ferramenta mortal como aquela, que a depender da munição perfura até a couraça de um blindado. Confesso: boa parte de minha paixão por armas morreu ali, naquele estande de tiro cercado de eucaliptos na serra do Mar. Tudo graças ao som e à fúria do AK-47.

Vá lá: 

Créditos

Imagem principal: José Amaral

fechar