Gozar é preciso

por Camila Eiroa

Duas ilustradoras de São Paulo recebem relatos de mulheres sobre seus orgasmos e transformam em pinturas. Conheça o projeto Orgasmus Multiplus, das Pupillas

Já pensou em relatar seus orgasmos para artistas desconhecidas? É isso que as Pupillas querem que você faça. O duo de ilustradoras é formado por Mariana Degani e Verônica Alves. Juntas, elas recebem depoimentos de mulheres sobre seus orgasmos e pintam telas através das sensações que têm ao lerem os relatos que chegam por e-mail.

Verônica e Mariana têm 30 e poucos anos e se conheceram na faculdade de desenho de moda, em São Paulo, onde começaram a desenvolver alguns projetos juntas. Logo perceberam que o mercado de moda não tinha muito a ver com elas, então, em 2007, começaram a desbravar novas propostas de criação em estampas, telas e roupas.

A primeira coleção de telas em conjunto foi a Orgásmicas. "Fomos caminhando para uma coisa cada vez mais autoral e com temáticas próprias. São telas que abordavam a relação da mulher com o orgasmo e com o conhecimento do corpo. Sempre por um viés mais poético e natural", diz Verônica.

Com a coleção, entraram em contato com diversas mulheres que vinham falar sobre a naturalização do nu e do prazer feminino, e de como era difícil ver isso sendo retratado de forma sincera e não sexual. Não deu outra, as duas tiveram uma luz: por que não falar especialmente do orgasmo, esse proibido? Assim nasceu o Orgasmus Múltiplus, em 8 de agosto de 2014, dia do orgasmo feminino.

"A gente tenta naturalizar o corpo e o prazer. O orgasmo não tem que estar sempre em um contexto sexual", explica a ilustradora. Ela se recorda de ter ouvido muitas mulheres com dificuldade de gozar. Para ela, "a relação do orgasmo feminino vem muito de filme pornô. Desde pequenas todas são ensinadas a sentarem de perna fechada, não conhecerem seu corpo e a relacionar o sexo ao prazer que ela tem que dar ao parceiro, não a ela mesma."

Traduzir os relatos das mulheres não é tarefa fácil. Antes de tudo, é preciso dar a confiança necessária para que elas mandem seus depoimentos. "Ficamos felizes quando chegam os e-mails, é uma entrega. As mulheres descobrem que, quando falam, não é tão dificil. É como o processo do florescer, alguns botões se abrem e outros vão se abrindo em seguida. As meninas mandam e vão incentivando as outras", pontua Verônica.

Depois disso, o processo criativo é muito intuitivo. O resultado é quase uma viagem. Com cores explosivas e formas caleidoscópias, as ilustradoras tentam viver todas as sensações descritas. "A gente tente resgatar o que às vezes não conseguimos nem explicar o que é", pontua a paulistana. Ela acredita que é preciso desconstruir o assunto, e o Orgasmus Multiplus funciona como um convite para começar a conversar sobre isso e conhecer seu próprio corpo.

Verônica também revela que nunca receberam relato de alguém que não consegue gozar. "Sabemos que é vergonhoso socialmente. A mulher não se sente à vontade pra assumir isso." Hoje, ela e Mariana já ilustraram quase 40 dos relatos recebidos. Assim que chegarem ao número 100, a ideia é lançar um livro e, junto com ele, uma exposição. 

"Se masturbar é quase um ato político em uma sociedade tão patriarcal como a nossa. É uma coisa muito simples, possível de ser feita e com tantos bloqueios. Se questionar sobre isso, entender que não tem nada de errado é o caminho. É isso que queremos e por isso queremos atingir tantas mulheres. O orgasmo em si é uma consequência", finaliza.

Vai lá: www.pupillas.comorgasmusmultiplus.tumblr.com

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