por Natacha Cortêz

Mulheres contam de suas experiências com sol, mar, areia e biquíni

No Brasil o verão é sinônimo de praia. Desde criança percorremos os litorais deste país para descansar o corpinho sofrido do ano todo. Mas praia, sol, mar e areia pedem biquini. Olá, cortininha, tomara que caia, asa delta e companhia! Mas nem todas as mulheres levam esse assunto numa boa, muitas vezes deixando o prazer de estar em uma praia de lado por conta de celulites, estrias e gordurinhas. Ou então se rendem à dietas e artifícios duvidosos em nome de um corpo perfeito para desfilar pela areia.

Aqui, três mulheres contam de suas relações com o biquíni. E a conclusão é: não existe "corpo de praia". Como diz a frase que viralizou na internet: "você não precisa ficar gostosa para o verão. O verão é que precisa ser gostoso para você". ♥

Lalai Persson, empresária e publicitária.

"Sempre fui magra, bem magra. Na adolescência a minha magreza me incomodava a ponto de eu usar somente roupas largas. Nessa época eu morria de vergonha de me enfiar num biquíni. Aos 20 minha percepção começou a mudar com o ganho de alguns quilos extras, quando finalmente conquistei 46kg, lembrando que tenho 1,61m. Comecei a ver vantagem em ser magrela, já que sempre fui comilona. 

Comecei a usar roupas mais justas e biquíni era tão confortável quanto estar completamente vestida. E abusava, quanto menor, melhor, mesmo com meus ossos saltando aos olhos. Eu era chamada constantemente de prancha de surf, nada de frente, nada de costas. Mas nessa época eu me importava menos apesar de ter uma coleção de apelidos. Ser magrela pode ser tão complexo quanto ter que lidar com quilos extras.

Foi depois dos 30 que o drama do biquíni voltou a me aterrorizar. O meu corpo mudou muito, apesar de eu ter ganho apenas um quilo extra, ou seja, 47kg. O corpo já não era tão firme, a barriguinha dava o ar das graças no verão, quando eu tomava cerveja descontroladamente, afinal, mesmo magras não estamos imunes a esses percalços. Na minha crise dos 30, que na época me balançou, eu simplesmente parei de frequentar praias de tão noiada que fiquei. Achava que meu corpo estava disforme, a bunda caída e as pernas horrorosas. Fiquei bons anos recusando convites e afirmando que eu curtia mesmo era viajar para cidades ou montanhas, mas praia não fazia a minha cabeça. MENTIRA! Eu sempre amei praia, mesmo não sabendo nadar (coisa que estou resolvendo agora).

 

"Ser magrela pode ser tão complexo quanto ter que lidar com quilos extras"

 

Acho que foi quando comecei a namorar com o [sueco] Ola, há 5 anos atrás, que eu voltei a fazer as pazes com o biquíni, porque ele é um cara do mar. Ainda assim, eu abusava de batas longas e cangas. Esse processo ainda está se desenrolando, não me sinto completamente à vontade num biquini, porque aos 40 o meu corpo mudou ainda mais. 

Coincidentemente ontem comprei um biquíni brasileiro, pequeno, cortinha e de amarrar na lateral. Aparentemente estou animada pelo verão e para mais um avanço para dar cabo de vez a esse drama e insegurança, que na real é uma estupidez independente do corpo que a gente tenha."


Fluvia Lacerda, top model plus size

"Sempre usei biquíni. É difícil em uma cultura como a nossa colocar um maiô sem se sentir fora do lugar. Aliás, colocar os excessos à mostra parecia menos dramático que usar maiô. Mas isso era mais um das mil paranoias que ouvíamos quando molecas. Eu nunca liguei muito. Nem era ligada na paranoia de ter que ser magérrima pra usar biquíni. Pra mim, praia sempre foi sinônimo de diversão, e não desfile de moda. Eu queria jogar vôlei, caminhar, nadar. Se não achava um biquíni que me deixasse confortável, mandava fazer.

 

"Nunca fui à praia pra agradar ninguém com a minha aparência. Acho que o erro de muitas pessoas é esse, querer viver pra agradar o outro"

 

Coxa, bumbum, quadril: coisas que chegaram na minha adolescência em abundância e nunca mais se foram. Nunca aprendi a odiar meu corpo. Sei que nem todo mundo aprende esse conceito. A gente sofre preconceito sim, mas eu me recuso a ser afetada pelo julgamento alheio. Quer olhar? Beleza, vivemos em um mundo livre. Mas eu vou curtir à vontade porque nem tenho saco pra ficar me lamentando quanto ao fato de que alguns me julgam fora do lugar, feia, gorda. Não tenho cabeça pra deixar de viver momentos felizes com as pessoas que amo pela mesma razão.

Amo estar na água. Depois do nascimento da Lua (minha filha de 14 anos), meu corpo mudou. Passei a ter estria e tal. Agora estou na minha segunda gravidez e mesmo assim coloco o barrigão de fora e curto minha praia.

Nunca fui à praia pra agradar ninguém com a minha aparência. Acho que o erro de muitas pessoas é esse, querer viver pra agradar o outro."

 

Silvia Neves, cantora lírica e modelo plus size

"Minas Gerais não tem praia, mas tem rios, cachoeiras e lindas lagoas para nos refrescarmos. Nasci em uma cidade abençoada, porque ao mesmo tempo que é quente como qualquer dia do verão também tem sua “praia” particular. Minas tem um certo tipo de praia, de água doce, na cidade de Pirapora, norte do estado, onde o Velho Chico começa a ser navegável.

Por nascer nessa cidade caliente desde criança aprendi o caminho da praia. E também dos olhares maldosos. Sempre fui gordinha mas nunca deixei de fazer as coisas que mais gosto, principalmente ir à praia, piscina, etc. Confesso que já senti sim, muita vergonha do meu corpo, principalmente quando mais nova e na época das paqueras, das minhas dobrinhas e das minhas odiadas estrias tão precoces que apareceram cedo por conta do crescimento rápido (com 12 anos já tinha 1,75). Mas ia, com a cara, o corpo e a coragem. O engraçado é que nunca usei maiô, amo pegar sol e odiava aquelas marcas enormes da peça. Barriga branca nem pensar, então tive que me acostumar com o biquíni mesmo e adoro.

 

"O segredo do meu "Projeto Verão"? Ser feliz e nada mais. Afinal, sol é para todos, mas especialmente para aqueles que sabem aproveitá-lo!"

 

Uma coisa que lembro é que quando era criança tinha dificuldade em encontrar peças que me coubessem com um toque mais infantil e acabava usando peças adultas, o que me irritava e me entristecia muito. Muitas vezes começava regimes malucos só em saber que iria para praia ou então chegando lá murchava a barriga até não poder mais para tentar disfarçar a pochete, até ensaiava ficar de canga o tempo todo mas só ensaiava, porque minha atração com o sol era maior que minha vergonha e com o tempo, a maturidade e a elevação da autoestima, comecei a desencanar por completo.

Agora quando vou à praia não me preocupo com nenhum olhar atravessado e, pelo contrário, chego a receber olhares de admiração. Se alguns me acham bonita ou ridícula, não me importo. O que me importa é curtir o que a vida tem de melhor: sol, praia, alegria, companhia dos amigos. E vamos combinar que amor próprio e autoestima é moda em qualquer estação, com qualquer roupa.

O segredo do meu "Projeto Verão"? Ser feliz e nada mais. Afinal, sol é para todos, mas especialmente para aqueles que sabem aproveitá-lo!" 

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