Casal Sem Vergonha

por Marcela Paes

Entrevistamos a dupla de blogueiros que quebra tabus e fala de sexo sem meias palavras

O  nome divertido e de duplo sentido do blog Casal Sem Vergonha é inegavelmente bom, mas não faz justiça ao publicitário Eme Viegas, 29, e a tradutora Jaqueline Barbosa, 22, seus idealizadores. Mais do que um casal despudorado, os paulistanos são interessados. E não só em sexo.

Com vários projetos para o próximo ano, inclusive um livro com aspectos autobiográficos, os blogueiros sabem que o assunto sobre o qual falam quase que diariamente vende. Somente um ano e dois meses após o surgimento da ideia, que saiu de suas inúmeras e naturais conversas sobre sexo, o blog se tornou a principal ocupação profissional dos dois.

Informais, os vídeos e posts veiculados são diferentes porque abordam as questões pertinentes a maioria dos relacionamentos pela ótica de um casal, e não por um ponto de vista exclusivamente masculino ou feminino. "A Jaque me dá credibilidade para não ser só mais um cara falando de sexo. Acho que o fato de aparecermos nos vídeos e de sermos um casal de verdade faz com que homens e mulheres se identifiquem mais.", afirma Eme.

Sem ceder a quase nenhum tabu, a dupla procura falar sobre aspectos que tenham relação com a sua própria vida e apesar de contrapontos com diferentes pontos de vista, o que prevalece são, em sua maioria, experiências próprias e de amigos. Desde os posts sobre como as mulheres devem tomar a iniciativa –  que remete ao  início do romance do casal, quando a blogueira insistiu em conhecer o publicitário ao ver seu perfil no orkut – a uma visão mais livre sobre sexo.

A Tpm conversou com o casal sobre os assuntos do blog, como é trabalhar falando sobre sexo, exposição, família e os projetos que estão por vir.

Tpm: Como vocês se conheceram?
Jaque: A gente se conheceu no Orkut e não tínhamos nenhum amigo em comum. O Eme tinha um texto no perfil que eu gostei bastante e, por isso, eu insisti em conhecê-lo. A gente nem entende como eu insisti tanto. Marcamos de nos conhecer, ficamos e depois de um tempo começamos a namorar. A iniciativa foi totalmente minha.

Vocês falam bastante no blog sobre mulheres que tomam a iniciativa...
Jaque:
Sim, eu sempre falo sobre isso no blog. As mulheres perdem muitas oportunidades por não tomarem a iniciativa, não falar o que querem. Ao invés de escolher, acabam sempre sendo escolhidas. Isso acada espantando as pessoas legais, só fica aquele tipo de cara que divide mulheres como difíceis ou não.

E como surgiu a ideia de fazer o blog?
Jaque:
A ideia inicial foi do Eme. Ele até tinha a ideia de escrever um livro sobre o assunto. Eu achei meio maluquice, mas pensei: Por que não? Mas eu não achei que seria tão sério. Nós amadurecemos juntos. Eu sempre gostei mais de escrever, sou formada em letras. Ele tem mais a parte de marketing, então tudo casou muito bem.

Como acontece a escolha do que postar? 
Eme:
Quinzenalmente fazemos isso. Na verdade, ainda não investimos muito nesse aspecto. Nossas pautas continuam surgindo de conversas informais, como no começo do blog. Os conceitos são tirados daí. Às vezes ela posta algo sem que eu saiba antes e acontece de eu gostar muito. Nós temos uma sinergia muito grande. 

O público do blog é em sua maioria de mulheres?
Jaque:
Nossa audiência é mais feminina mesmo. A média é de 70% de visitas de mulheres. Dessas, 60% são solteiras e o resto está em algum tipo de relacionamento sério. Nossas média é de dois milhões de pageviews mensais. 

Como vocês estabelecem contato mais direto com essa audiência?
Jaque:
Nós recebemos muitas perguntas por e-mail, além dos comentários em cada post. As pessoas contam a vida, mandam e-mail de três páginas contam tudo mesmo. As dúvidas mais comuns são sobre sexo, traição e ciúme. Já só comentários, nós recebemos elogios e críticas. Fizemos um post sobre casamento, sobre a imposição dessa regra na sociedade. Aquela coisa de ser obrigatório namorar, noivar e casar. Aí escrevemos no título que casamento era um modelo falido. Mais como provocação, porque nossa crítica não sobre o casamento em si, mas sim sobre a obrigação de se seguir um modelo que nossas mães e avós seguiram. Nesse post, recebemos milhões de críticas.

Mas rola hostilidade nos comentários?
Jaque:
Sim. Nesse caso recebemos muitas críticas. Mas o que a gente gosta é que se a pessoa realmente parou e pensou sobre o assunto, nosso post já valeu. Mas os próprios leitores rebatem essas ideias e os comentários criam uma linha de pensamento.

Eme: O mais engraçado é quando alguém nos xinga e os próprios leitores nos defendem. Nem precisamos responder, pois quem leu o texto e entendeu já rebate. Acho bacana, o leitor acaba abraçando uma causa.

Vocês já repensaram algum posicionamento de vocês por causa das críticas?
Jaque: Nós nunca nos arrependemos de nenhum post, mas já incorporamos pontos de vista diferentes colocados pelos leitores. Também já percebemos que alguns posts poderiam ser mais completos.

É mais fácil falar sobre sexo entre quatro paredes ou na internet?
Eme:
É muito mais fácil a dois. Na internet você compartilha com dezenas de pessoas e são vários julgamentos, diferentes opiniões. A dois, é mais fácil estabelecer um alinhamento. Se forem seis pessoas, um poli amor, já fica mais difícil.

Jaque: Mas mesmo com essa facilidade, a regra é que as pessoas têm dificuldade para falar sobre esse assunto. Até quem comenta no nosso blog pode ter facilidade somente para fazer um comentário na internet. É mais fácil do que se manifestar na vida real, porque não existe o anonimato.

Eme: O problema é que nós não somos anônimos.

E vocês não sentem, às vezes, que estão abrindo muito a vida de vocês?
Jaque: Sim, por ingenuidade. Caímos em muitas pegadinhas, até em entrevistas.

Eme: Como no caso do programa Legendários. Eles pegaram uma banana e pediram que a Jaque simulasse sexo oral.

Jaque: Eu fiquei muito, muito sem graça. Tentei passar a bola pro entrevistador, mas fui pega totalmente de surpresa. Não é meu trabalho isso. Agora já mudamos. Saberia como lidar com essa situação agora. Teve uma entrevista que demos para revista que também aconteceu algo parecido.  Respondemos uma pergunta sobre swingue, se já tínhamos frequentado. Só uma pergunta. Aí a chamada da matéria foi "Casal Sem Vergonha frequenta swingues e recomenda para os amigos" (risos).

E como os pais de vocês encaram esse trabalho?
Jaque:
Meus pais não são ligados em internet. Eles sabiam do projeto desde o começo, mas nunca pediram que eu mostrasse. Até que um dia eles viram, e justo a parte mais pesada. Até eu explicar que não era só sexo, mas que também falávamos sobre relacionamentos foi meio complicado. Uma pequena crise... Depois eles aceitaram, mas continuam sem querer saber os detalhes. Eles respeitam.

Eme: Comigo foi mais fácil. Apesar de eu não ter tido muita abertura para falar de sexo com os meus pais. As pessoas pensam que tivemos uma educação super liberal onde tudo era permitido. Não foi isso. A frustração de não poder falar muito sobre isso fez com que o interesse crescesse. Hoje em dia minha mãe lê o blog, mas só comenta os posts mais light.

E os amigos? Perguntam muito sobre o assunto?
Jaque:
Muito! Além de amiga, eu sou muito conselheira para esses assuntos. O que nós falamos no blog são as mesmas coisas que nós dizemos para os nossos amigos. Não mudamos nada, além do fato de colocar diversos pontos de vista, porque não conhecemos as histórias de todo mundo.

Qual é o tesão em escrever sobre sexo. Tem mais relação com o tema ou a fama do blog?
Jaque:
Nós juntamos as duas coisas. Já gostávamos do assunto, eu sempre comprei livros de sexo e relacionamentos. Nós achamos esse nicho. Ninguém falava sobre isso com a nossa linguagem. Ou a abordagem era muito médica ou muito escrachada. A coisa de se expor, por exemplo. Eu odeio câmeras, mas sabia que isso seria o diferencial do blog, porque já existe muita gente falando anonimamente. Nós somos reconhecidos por sermos um casal de verdade que fala sobre sexo na internet.

Eme: Eu também. Minha mãe é super católica e eu sempre batia de frente e mesmo assim falava sobre esses assuntos. Com meus amigos homens também. Eu falava muito sobre isso, eles até ficavam cansados. O tema é por paixão e a fama é estratégia. Nós vemos como um veículo. Antes nós escrevíamos e torcíamos para alguém ler e comentar. Agora a gente sabe que vai ter um retorno. Então o tesão não é sobre a fama, mas sim, sobre o reconhecimento.

Quem lê o blog presume que o relacionamento de vocês seja tão livre como o que é dito nos posts. É assim?
Jaque:
Nós temos a regra de sempre falar. O que está incomodando, o que está ruim. Isso deixa nosso relacionamento bem livre. Nós lidamos bem como o ciúme. Sei que não sou a única mulher que ele vai olhar e se interessar, mas prefiro não ficar me preocupando com isso o tempo inteiro. Prefiro me focar em fazer nosso relacionamento ser bom todos os dias. Me preocupo em tratá-lo bem hoje. Não invento motivo para brigar e apimentar a relação. Acho que com o tempo esse tipo de atitude faz com que o respeito acabe.

Eme: O mais importante é falar quando a coisa surge. Surgiu uma paranoia, melhor resolver na hora. Relação é troca de energia. Se eu faço algo manipulador, vou receber uma resposta assim. Nós escrevemos as coisas que pensamos, mas não necessariamente fizemos tudo. O que nós buscamos é um norte. Atitudes para guiar nossa conduta.

Vocês não acham que o leitor pode ficar frustrado por sentir que não tem uma vida sexual tão agitada quanto o que é proposto nos posts?
Eme:
O primeiro passo para evolução é a frustração. Pode até rolar uma frustração, mas isso faz com que o pessoa busque melhorar, busque alternativas. Nós apontamos caminho para as pessoas mudarem as coisas com as quais estão insatisfeitas. O foco é: sinta mais prazer e seja mais feliz diariamente.

Jaque: Nós sempre dizemos que se alguém se sente bem e realizado transando uma vez a cada trimestre que continue assim e seja feliz. Não existe uma regra. Nós procuramos mostrar alternativas para quem está interessado. Não é impositivo. Os posts são para várias pessoas e cada um absorve o que é bom para si. Para alguns, sexo a três pode ser algo impensável. Para outros, pode ser uma ideia interessante. Os assuntos são bem variados. Não pregamos que ninguém seja uma máquina de sexo [risos].

Quais são os próximos projetos do "Casal Sem Vergonha"?
Jaque
: Nós vamos escrever um livro autobiográfico, um diário nosso. Uma mistura da nossa vida com os temas que colocamos no blog. 

Eme: Já que não vamos escapar de falar sobre a gente, que seja em um livro. Dá para abordar vários temas sem ser autoajuda. Talvez saia o ano que vem. Também temos a ideia de fazer um esquenta de Carnaval e um workshop sobre sexualidade nos sentido de comportamento... E claro, continuar com o blog!

Vai lá: http://www.casalsemvergonha.com.br

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