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por Camila Eiroa

Mallu Magalhães fala sobre o novo projeto com Marcelo Camelo e Fred Ferreira

Os fãs do casal Mallu Magalhães e Marcelo Camelo já esperavam um trabalho que fosse oficialmente dos dois há um bom tempo. A surpresa deste ano foi que eles se juntaram com o português Fred Ferreira, baterista do Buraka Som Sistema e amigo de longa data de Camelo, para isso. O encontro resultou na Banda do Mar, com CD lançado recentemente.

A sonoridade do álbum não se limita a uma única personalidade e passeia sutilmente entre as referências de cada um. As letras poéticas e abstratas de Camelo se intercalam com a pegada mais jovial de Mallu, e ambas encontram as batidas marcantes de Fred. Um disco para ouvir em domingos de sol.

Mallu falou com a Tpm sobre a banda e contou que se sente mais madura neste momento da carreira. Leia abaixo.

Tpm. Como foi que surgiu a Banda do Mar?

Mallu Magalhães. Nós já tínhamos bastante amizade e acabou desaguando naturalmente na banda, já que os três são músicos. A gente está sempre junto e foi num desses encontros de almoço, de jantar, alguma situação assim, que surgiu a ideia. Fomos nos familiarizando com ela e, há um ano mais ou menos, resolvemos juntar o repertório, compor e gravar.

As músicas foram feitas especialmente para o álbum? A maioria das composições foram feitas para o álbum em si. Tem algumas que são trechos que estão na nossa memória de outros momentos de composição. Às vezes uma música que você propôs há muito tempo nasce de novo na sua cabeça por ter a ver com o repertório... Mas a maioria foi feita pra banda.

Como foi o processo de criação das letras? Foi longo e até um pouco lento. A gente ia compondo e quando sentíamos que a música estava quase pronta, mostrávamos um pro outro. Eu morria de vontade de mostrar pro Camelo e para o Fred. Mas no ato de gravar, que ficamos os três no estúdio, que fomos ajeitando as coisas em conjunto. É nesse momento que todo mundo vai opinando, desde detalhes da letra até a melodia. Todo mundo contribui.

O Fred já era amigo do Marcelo, certo? E você o conheceu por ele. Isso, eu conheci o Fred pelo Marcelo. Eles já eram amigos há anos e o Fred sempre foi um dos melhores amigos do Marcelo, que é padrinho da filha dele. Eles sempre foram muito unidos no dia a dia e eu acabei entrando pra família. Me identifico muito com o Fred, ele acabou virando pra mim um super amigo também. A graça da gente tocar é poder tocar com o Fred também. 

 

"A gente procura fazer as coisas de um jeito mais instintivo pra poder ficar mais bonito"

 

Você acha que morar em Lisboa, em Portugal, influenciou diretamente no disco? O país tem uma dimensão diferente, a cidade também. Acho que todo o cenário influencia na composição e no processo criativo dos arranjos e da arte. De tudo. Eu não sei te pontuar exatamente onde, é muito difícil porque é tudo muito abstrato, né? A gente lida muito com o subconsciente e com impulsos que a gente não tem muita gerência. A gente procura fazer as coisas de um jeito mais instintivo pra poder ficar mais bonito.

E de onde veio o nome Banda do Mar? Precisávamos do nome há um tempão. A gente foi fazendo o disco e a ideia foi se consolidando enquanto ficávamos tentando dar nome. Banda do Mar foi sugerido pelo Marcelo e foi o que achamos que tinha mais a ver. Realmente, agora, olhando, a gente gosta muito do fato do mar ser essa pluralidade de interpretação, sabe? Cada pessoa acha uma coisa. Pode ser o mar porque mora em Portugal, porque é uma aventura deles dois... Pra cada pessoa o mar tem um significado. E é mais ou menos tudo isso junto. É um disco que é simples, mas que o conteúdo é grande, sabe?

Como fica a personalidade de cada um de vocês nas músicas? Acho que o Marcelo trouxe um peso, uma resiliência, uma força no som com melodias lindas e aquelas letras menos pontuais, mais abstratas. Eu talvez tenha trazido um frescor, um humor talvez, uma coisa do universo feminino, não sei [risos]. E o Fred trouxe aquelas batidas geniais, trouxe a experiência dele de arranjo e de produção, então ele trouxe uma comunicação com as pessoas. ele consegue comunicar muito bem. Cada um contribuiu assim.

Embora você e o Camelo já tivessem feito parcerias na música, era uma vontade antiga a de ter esse projeto e que se juntou com o Fred? Era uma vontade antiga, sim. É uma vontade que surge naturalmente, né? Acho que você ser casado com uma pessoa traz esse desejo de estar junto. Você fica planejando coisas que você pode fazer junto com a pessoa, desde uma viagem e um passeio até um projeto maior. A gente vai estar sempre juntos eu acho, né? Trabalhando e na vida. A gente é muito companheiro um do outro.

Saiu tudo como o esperado? A gente teve uma sorte danada de ter saído tudo gostoso, tudo tão bem. A gente fez as coisas com o desejo de que ficasse legal, mas meio sem saber se ia dar. Tivemos a feliz surpresa de ter tido um resultado tão bacana.

 

"Temos nossas angústias, nossos sonhos e com certeza vamos continuar produzindo para as nossas carreiras solo"

 

Como fica a carreira solo de cada um de vocês? No momento, nos próximos meses e ano, a gente está mesmo focando na Banda do Mar porque exige muito tempo e muita energia. A gente vai continuar sendo um indivíduo tanto pessoalmente quanto artisticamente. Temos nossas angústias, nossos sonhos e com certeza vamos continuar produzindo para as nossas carreiras solo.

Você sentiu alguma diferença entre estar com uma banda e cantar sozinha? É a primeira vez que eu tenho uma banda e, poxa, é muito diferente. Eu tive o privilégio de no começo da minha carreira ter músicos que me acompanhavam e que eram muito presentes, que estavam sempre atentos ao arranjo. Eu sempre estive bem acompanhada. Mas com uma banda é diferente, você se sente fazendo parte de uma galera, de um time. A gente convive muito e somos muitos parecidos em nossos princípios, estamos sempre em sintonia. Acredito que é isso que garante que qualquer coisa que a gente produza seja no mínimo dentro do gosto de todos. Claro que as vezes a gente propõe alguma coisa que não é o que o outro esperava, mas é sempre construtivo. A gente gosta muito um do outro.

E você, Mallu, sente falta do Brasil? Muita! Eu sinto muita falta. A gente vem pro Brasil o tempo todo, é até difícil dizer que eu moro em Portugal porque eu moro meio cá, meio lá. Eu moro na van, no avião, em todos os lugares [risos]. Nossa família é daqui, nosso público é daqui, então a relação continua muito forte.

E se perguntarem por você, a gente diz que você está ótima? Sempre [risos]. A gente vai crescendo, vai ganhando segurança e vai ficando mais tranquila.

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