A mulher mais perigosa dos Estados Unidos

por Milly Lacombe

Kshama Sawant foi uma das líderes do movimento Occupy Wall Street em 2011

Ela nasceu na Índia, fala inglês com sotaque, é mulher, ativista e socialista. Apesar de tantas características inusitadas foi eleita vereadora pela cidade de Seattle em 2014, e em artigo publicado no dia 15 de março no site Truthdig.com o jornalista e escritor Chris Hedges se refere a ela como “a mulher mais perigosa da América”.

Kshama Sawant foi uma das líderes do movimento Occupy Wall Street em 2011 e desde então ganhou algum destaque político. Quando decidiu concorrer a uma vaga como vereadora de Seattle pelo Socialist Alternative – ou Alternativa Socialista – era, por todos os motivos listados acima, considerada apenas uma figurante.

Para deixar tudo mais complicado, não aceitou receber dinheiro de corporações durante a campanha, e não aceitará quando for tentar se reeleger, e seus slogans diziam coisas como “o capitalismo não funciona mais”.

O grande favorito à vaga era um veterano vereador democrata que concorria à reeleição, mas Sawant ficou com ela, tendo mais de 35% dos votos, um número absurdo para uma novata socialista (desde 1991 o minúsculo partido socialista – pois é, existe um -, não emplacava ninguém).

Sawant liderou o movimento que exigia que o salário mínimo em Seattle fosse elevado a 15 dólares por hora, conquistando a antipatia de quase todos os empresários da região. Em campanhas que tomaram as ruas e as redes sociais, ela conseguiu o feito que todos diziam ser impossível (para se ter uma ideia, o salário mínimo da federação é de 7,25 dólares por hora). Agora, pelo país inteiro, os 15 dólares por hora passaram a ser realidade, uma pela qual mais e mais trabalhadores começam a lutar, inspirados por uma imigrante socialista.

Sawant nasceu em Mumbai, Índia, onde ficou até se casar. Depois, o marido foi convidado a trabalhar na Microsoft, nos Estados Unidos, onde ela cursou economia. Assustada com a crescente desigualdade social – que já a chocava na Índia -, decidiu se envolver em diferentes formas de ativismo e acabou como uma das figuras de destaque do Ocuppy Wall Street.

Movida pelo que meu pai chamaria de “a coragem da ignorância”, Sawant diz o que pensa sem poupar ninguém, e se entrega às mais diferentes batalhas em nome do direito das minorias. Mais ou menos como aconteceu na Grécia, onde um partido de extrema esquerda desconhecido superou democratas e republicanos na corrida presidencial, e ao que estamos vendo na Espanha, onde o Podemos, partido que surgiu com os movimentos Ocuppy, ganha cada dia mais força, Sawant está surfando a onda da indignação com a desigualdade e aproveitando o voto daqueles que, zonzos, decidem olhar para a esquerda.

No dia em que foi eleita deu uma entrevista a Amy Goldman, âncora do canal de internet Democracy Now, e explicou que o eleitor está cansado e que todos os anos ele acha que deve escolher entre um democrata e um republicano sabendo que nada vai mudar. “Wall Street continua lucrando como nunca e o custo da recessão ficou na conta do trabalhador. A gente começou a se perguntar: para onde vamos daqui? Havia muita gente assim, e centenas de pessoas me ajudaram a fazer campanha”.

As próximas batalhas de Sawant dizem respeito a taxar grandes fortunas, a criar sindicatos para trabalhadores da Amazon e do Starbucks e a defender a integridade dos sindicatos americanos, que praticamente morreram nas mãos de Ronald Reagan. Não é difícil entender por que Hedges diz que ela é a mulher mais perigosa do país. Minha sugestão é que vocês guardem esse nome: Kshama Sawant.

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