Marcos Coutinho, o Qinho

por Nina Lemos
Tpm #98

Conheça o queridinho da nova cena da MPB carioca

Conhecido no Rio como o queridinho da nova cena da MPB carioca, Marcos Coutinho, o Qinho, lança, aos 25 anos, um disco solo chamado Canduras, cheio de canções românticas. Ao mesmo tempo, toca em bandas de amigos e se diverte com a comparação entre ele, Marcelo Camelo e Felipe Dylon

Ah, se eu tivesse 20 anos.” Essa foi a primeira frase que veio à minha cabeça quando me vi sentada no quarto de um menino de 25 anos de olhos azuis e corpo de quem pega onda. Enquanto um jazz rolava no toca-discos e o mundo caía (literalmente) do lado de fora no Rio de Janeiro, ele brincava: “Já que eu vou sair pelado na revista, acho que a entrevista pode ser no meu quarto”. Mas quem é esse tal de Qinho? “Ele é o queridinho da cena da nova MPB carioca, Nina. E é gato”, explicam as meninas da Redação. “Você vai adorar. O disco dele chama Canduras. Tem coisa mais fofa?”, diz Marcus Preto, crítico de música da Folha de S.Paulo.

Minhas “fontes” tinham razão. Marcos Coutinho, o menino sentado na minha frente no quarto de uma cobertura em Ipanema (que trouxe um copo de água mesmo depois de eu repetir que não precisava), montou, em 2004, a banda Vulgo Qinho & Os Cara, que tinha, entre seus integrantes, Omar Salomão, filho do poeta Waly Salomão. Dizem que os garotos caíram no gosto de amigos de Waly, como Caetano Veloso e o poeta Chacal – este foi o responsável por sua participação no Cep 20.000 (tradicional evento do Rio que mistura música e poesia e já teve participações de Dado Villa-Lobos e Marcelo D2).

Agora em carreira solo, Qinho compõe e escreve letras – muitas sobre amor. No fim do ano passado lançou o disco Canduras, e hoje toca em bandas de amigos. “No momento são umas quatro”, conta. Seu disco é delicado. E é isso mesmo que ele queria, começando pelo título. “Uma das coisas que mais faltam no mundo é gentileza... delicadeza, ternura. São coisas que me interessam e que eu acho que têm a ver com o meu trabalho”, diz o rapaz, provando ser garoto sensível. “Ser homem na minha geração é mais tranquilo, acho que você não se sente pressionado o tempo todo a mostrar que é macho.”

Qinho chora, gosta de MPB, é carioca da zona sul e estudou jornalismo na PUC. Impossível não pensar, de cara, em uma comparação meio idiota entre ele e o Los Hermanos.

“Quando comecei, diziam que eu era uma mistura de Marcelo Camelo com Felipe Dylon. É bizarro, mas no fundo tem a ver. Sou superfã do Camelo. E tudo bem ser comparado com dois caras da minha geração.”

O gosto pelo surf, esporte que aprendeu com o irmão, fez com que ele fosse adotado pela grife de moda praia Totem, como uma espécie de símbolo da marca. Um CD da banda Vulgo Qinho & Os Cara teve patrocínio da grife, e Qinho ganha roupas da marca para tocar e desfilar por aí. Acham que ele é a cara do Rio. E, com seu violão em um braço e uma prancha de surf no outro, ele mostra que é mesmo o Garoto de Ipanema 2010.

Geração MPB

E que geração é essa? Qinho faz parte de uma turma que gosta de MPB e que não precisa se voltar contra os ídolos da música brasileira para se afirmar, como aconteceu com muitos artistas dos anos 80 e 90. Ele canta em português e faz música brasileira – por mais influenciada pela cultura pop que essa “nova MPB” possa ser. Seus maiores ídolos são Jorge Ben Jor, com seu A Tábua de Esmeraldas, Milton Nascimento e Gilberto Gil. “Essa é a minha santíssima trindade”, diz.

Ele mostra a coleção de vinis cheia de pérolas de seus mestres, montada desde que ele era “moleque” em sebos do centro da cidade. “Sou o filho mais novo e escutava o que os meus irmãos ouviam. Comecei a gostar muito e a procurar nos sebos do Rio. Os caras que vendiam ficavam impressionados porque eu só tinha uns 16 anos e começaram a me ajudar, separando vinis legais para mim”, conta.

O compositor carioca faz parte da mesma safra de artistas que chacoalham o Studio SP (a casa de shows do Baixo Augusta), em São Paulo. É feito da mesma matéria que nomes como Tiê, Tatá Aeroplano e Leo Cavalcanti. Assim como seus colegas do outro lado da Dutra, ele agita a cena tocando em várias bandas e movimenta o cenário musical alternativo carioca. Trabalho que, segundo ele, não é fácil.

“No Rio tudo é mais difícil, desde encontrar lugar para tocar até conseguir espaço na mídia. Tudo é ligado à TV Globo. Se você não é da Globo, não sai em lugar nenhum. Mas tem muita gente boa da minha geração tocando aqui”, defende. Já que não existe espaço, ele faz as vezes de produtor e tenta conseguir lugares na marra. “Organizei um evento chamado Dia da Rua. São dois shows simultâneos em Ipanema, em pontos diferentes. Na primeira edição fui de boteco em boteco perguntando se tinha tomada. Na segunda vez tocaram 15 bandas. Quero fazer de novo, de maneira profissional, com patrocínio.”

Esse jeito de aglutinador vem desde criança. O menino não parece se acomodar no estereótipo de filho da classe média da zona sul carioca. “Eu sempre fui da rua, sempre peguei onda com todo tipo de gente, desde os garotos de Ipanema até os do Vidigal [morro perto da praia do Leblon], sempre tive todo tipo de amigo.” Amigos de praia, que fique claro. Qinho é rato das areias do seu bairro. Quais são seus esportes favoritos? “Ah, surf, frescobol...”

O gosto pelo surf, esporte que aprendeu com o irmão, fez com que ele fosse adotado pela grife de moda praia Totem, como uma espécie de símbolo da marca. Um CD da banda Vulgo Qinho & Os Cara teve patrocínio da grife, e Qinho ganha roupas da marca para tocar e desfilar por aí. Acham que ele é a cara do Rio. E, com seu violão em um braço e uma prancha de surf no outro, ele mostra que é mesmo o Garoto de Ipanema 2010.


Assistentes de foto Ju Colussi e Paula Giolito Produção de moda Ana Hora Assistente Natália Chor Qinho veste Acervo pessoal

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