Duas ou três coisas que não sei sobre elas

por Beto Brant

Beto Brant, diretor de Cão sem Dono, que estréia em junho, escreve sobre as mulheres de seu imaginário.

Sobre os filmes que faço costumo ouvir barbaridades. Adoro! Uma das mais frequentes é que eles transbordam tes­tosterona. Um mundo masculino demais.

Confesso que por dentro sorrio. Mas, por discrição, disfarço diante do que parece restrição da parte da bárbara interlocução. De fato, são histórias narradas por homens, que é o ponto de vista do qual vejo e ouço o mundo. E juro que me interessa de que maneira as mulheres pensam. Vou até onde me permitem saber.

No filme Ação entre Amigos, Lúcia é uma jovem guerrilheira, convencida de seus ideais. Surpreendida por uma gravidez, abraça o destino e aceita uma última ação de guerrilha, quando é presa e torturada.

Em Crime Delicado, Inês faz parte do projeto artístico de um pintor. Posa nua para as telas eróticas, um modo de enfrentar a dor da mutilação. Percebe-se prisioneira da arte e então se li­be­rta.

Helena, de Os Matadores, é casada com um homem poderoso, por castigo ou por esco­lha, certo é que é refém do marido. Seduz homens valentes o bastante para correr riscos. E, como uma viúva negra, vai os perdendo.

No mais recente Cão sem Dono, Marcela veio do interior para Porto Alegre. Lá, seu destino seria como o da mãe ou da tia, casar, ter filhos e seguir as tradições da família, descendentes de imigrantes. No calor da adolescência descobre seu desejo pela aventura, quer o imprevisível da vida, quer viajar e buscar novos destinos.

Por isso, tenta a carreira de modelo. Até que encontra Ciro, recém-formado em letras, sem planos, sem futuro. Mas sincero. Uma doença derruba Marcela, mas ela tem a sorte de ter o amor de Ciro, um vira-lata. Adoro essas mulheres, todas valentes, trágicas e lindas. Agradeço às atrizes que deram alma a elas.

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