Tpm

por Karla Monteiro
Tpm #94

Mariana Ximenes não está fazendo nada. Em período sabático, seu objetivo é se reinventar

De longe, ela parece uma pinup moderninha. Vem trotando pela ruela de paralelepípedos, em direção ao Azul Marinho, tradicional restaurante do Arpoador, no Rio. Short preto de cintura alta, camiseta de listras pretas e brancas, sandália vermelha, de salto baixo. O traje realça os seios fartos, a cinturinha fina, as pernas benfeitas. Uma turma de homens, sentada numa das mesas que ocupam a calçada, de frente para o mar de Ipanema, olha na direção dela. Pescoços entortam. “Olha ali, é a Mariana Ximenes”, diz um. “Gata”, opina outro. “Magrinha demais”, desdenha o terceiro. Sim, é a Mariana que chega, sorridente, simpática, charmosa. Abre a bolsa, mostra as Havaianas. “Eu trouxe, queria sentar na pedra, pegar aquela energia”, comenta.

Uma pena. O tempo não está para Arpoador. Céu escuro, carregado, sujeito a chuvas e trovoadas. A melhor opção para o fim de tarde é entrar no restaurante, escolher uma mesa perto da janela e se contentar com a vista. “Vejo muito pôr do sol no Arpoador. Quando cheguei aqui, com 17 anos, às vezes me sentia sozinha, então pegava o walkman e vinha para cá. Adoro música, me inspira, preenche a alma”, diz. “Mudar para o Rio é uma coisa doida. Você fica encantada com a paisagem da cidade, com a possibilidade de dar um mergulho antes do trabalho, andar de bicicleta. Mas agora estou com muita vontade de voltar para São Paulo.”

O garçom do Azul Marinho conhece Mariana, a chama pelo nome, providencia uma água de coco no quiosque do Posto 7 para hidratar o papo. “Venho sempre aqui”, fala, justificando a intimidade na casa. De perto, no tête-à-tête, a atriz, que chegou ao Rio em 1998, para sua primeira novela, Andando nas Nuvens, parece uma bonequinha de louça e de luxo, toda perfeitinha, meio insegura, meio menina, meio mulher. A palavra que mais sai de sua boca no momento é “renovação”.

Tem que reinventar
Mariana não escancara o verbo. Mas, nas entrelinhas, está falando do seu momento de vida. Há oito anos, aos 20, ela se casou com o produtor de cinema Pedro Buarque de Holanda, sócio da Conspiração Filmes, 16 anos mais velho, um sujeito culto, bem relacionado, dono de um sobrenome de peso. Ao lado dele, a garota paulistana virou uma mulher da nata intelectual carioca, que costumava receber amigos como o cineasta francês Michel Gondry em sua cobertura na Vieira Souto. Há pouco mais de dois meses, o casamento acabou. E Mariana, como a própria diz e repete, precisa se reinventar, se renovar. “O Pedro e eu tínhamos os mesmos interesses. Não sentíamos a diferença de idade. Ele gosta da vida, tem energia, combinava muito comigo. Ficamos juntos oito anos. Posso dizer que super deu certo, né?”, brinca, fazendo referência à fugacidade contemporânea. “Terminar uma relação é um luto. Estou vivendo essa dor. É como se eu estivesse trocando de pele, reinventando tudo. Fico com vontade de voltar para São Paulo porque é de onde saí ainda adolescente.”

Mariana vai ter que esperar pelo menos um ano para pegar a BR-040 no sentido contrário. Em janeiro, começa a gravar a próxima novela das oito, de Sílvio de Abreu, em que vai viver “uma vigarista, uma vagabunda”. E, em março, estará às voltas com o lançamento de A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água, uma adaptação da obra de Jorge Amado, dirigida por Sérgio Machado, com Stênio Garcia, Othon Bastos, Vladimir Brichta, Luís Miranda e Paulo José.

A atriz se anima toda quando fala de trabalho. É uma workaholic confessa, que aproveita os domingos, religiosamente, para estudar. Aos 28 anos, já tem no currículo 8 novelas, 12 filmes, 1 peça de teatro e participações especiais em séries e programas de TV. Ela conta que ficou na Bahia quatro meses por causa do novo filme. Comeu muito acarajé, muita moqueca, muito caruru. “Adoro comer. Como de tudo. Só me seguro porque senão fico fortinha”, diz. E mergulhou no personagem. “Tive uma semana entre o fim de A Favorita e o começo dos ensaios do Quincas. A preparação com a Fátima Toledo foi uma desintoxicação. Sou apaixonada por processos de composição de personagem. O trabalho com a Fátima é vivo, intenso. A Cecília Meirelles tem uma frase que eu adoro: ‘A vida só é possível reinventada’.” O ator Paulo José foi testemunha ocular da avalanche Mariana Ximenes: “A Mariana é a minha mais recente amiga de sempre. Impecável profissionalmente. Não confia na bossa, no talento. Trabalha feito louca. Ela é muito melhor do que pensa que é. Um dia vai descobrir isso. É insegura como todo grande ator. Só os imbecis são seguros”.

No caso de Mariana, insegurança é combustível. “Vou a todas as peças de teatro, assisto a tudo o que posso no cinema, estudo muito, leio pra caramba”, diz.

Resumindo, corre atrás. É uma menina de raça. A família materna é de Sobral, no Ceará. A avó teve 15 filhos. “Minha mãe tem uma história muito forte. Ela veio de pau de arara com o meu avô para o Rio com 6 anos de idade para morar com tios. Foi separada da mãe, dos irmãos. Mas ao mesmo tempo pôde estudar aqui”, conta. “Tenho o maior orgulho dessa origem nordestina. São pessoas muito simples, sempre de muita fartura, muito carinho. Nunca volto de Fortaleza sem trazer paçoca de carne-seca. Morro de vergonha daquele cheiro exalando, mas trago.” A família paterna é de São Paulo, italiana, barulhenta, grudada. “Cresci na Vila Mariana, numa ruazinha de paralelepípedos. Minha avó mora a duas casas da nossa. Fui criada assim: lasanha de um lado e baião de dois do outro.” O irmão, Rafael, um ano mais novo, é a grande paixão. Caçula da família, vai virar médico logo mais, assim que se formar pela Unicamp. “A Mariana sempre foi protetora, cuidava de mim. Brincamos muito e brigamos pouco. Hoje a minha vida é bastante diferente da dela. Mas a gente tenta encontrar tempo para passar juntos”, diz Rafael. “Consegui ficar anônimo nos seis primeiros meses de faculdade, até descobrirem que eu era irmão da Mariana Ximenes. Todo mundo da turma agora quer saber se ela vai na nossa formatura.”

Mariana adora arte. E uma das pessoas com quem ela mais compartilha essa paixão é Mana Bernardes, artista plástica e designer de joias carioca, uma das melhores amigas da atriz. Se conheceram num bloco de Carnaval, o Cacique de Ramos, há alguns anos. “Estávamos as duas fantasiadas, foi muito divertido. O que mais me impressiona na Mari é o profissionalismo. Ela é pontual, dedicada. Uma vez fizemos um curso de filosofia da estética na PUC. Mari chegava na hora, eu, sempre atrasada”, entrega Mana. “A Mari é aquele tipo de amiga para todas as horas. Está sempre disposta, aberta para qualquer parada. Tem um pique louco, uma energia que eu não sei de onde vem. A gente se dá muita força. Somos parceiras. Meu namorado lançou um livro recentemente e a Mari estava lá, fazendo a leitura no lançamento, para ajudar na divulgação. Ela é assim.”

Da noite pro dia
Depois de duas horas de papo, duas águas de coco, Mariana se levanta para ir embora. Despede-se dos garçons, agradece. Ela parece fazer questão de agradar. Sempre. No seu processo de “reinvenção”, a atriz incluiu um monte de quesitos. Entre eles aprender a surfar. E a contemplar. “Há um mês e pouco faço aulas na Macumba [praia na zona oeste da cidade]. Já consegui ficar em pé e pegar onda”, orgulha-se. “Quero mudar o meu ritmo. Eu funcionava muito à noite. Mas estou me resolvendo bem acordando cinco da manhã para surfar. Meu foco agora é vida saudável. Estou dormindo cedo, fazendo muita terapia e ginástica aeróbica.” Antes de sair do Azul Marinho, Mariana elogia a vista pela enésima vez. “Como é bom ter tempo na vida. Estou percebendo a importância do tempo. Estar aqui, contemplar. Eu cada vez paro mais para observar.”

Estilo Marcio Banfi Maquiagem Agnes Mamede (Capa MGT) Assistente de foto Marcelo Rangel Produção de moda Drica Cruz (Abé MGT) Manicure Nilza Oliveira Agradecimento Galeria Vermelho Mariana veste colar Brechó volta ao mundo, camiseta Der Metropol para Casa de Criadores
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