por Carol Sganzerla
Tpm #87

O ator abre a casa e a camisa para preparar um almoço para a Tpm

Rodrigo saiu do interior de Santa Catarina para se tornar galã da Globo, formar uma família-modelo e mostrar que a herança dos Hilbert vai além do rosto bonito e dos olhos azuis

Explica-se muito da pessoa por seus ascendentes e descendentes. Rodrigo não foge à regra. Enquanto o sorriso mais rasgado escorre dos lábios quando seus filhos, os gêmeos Francisco e João, 1 ano, marcham na cozinha com uma bacia de plástico na cabeça, os olhos estacam e a boca emudece buscando palavras pra narrar a saga de seu pai. Comecemos pelo frescor dos bebês. Loiríssimos, eles já sabem acionar os passinhos ao ouvirem a mãe cantar: “Marcha soldado, cabeça de papel...”. Aonde vai um, segue o outro. Perninhas compridas, olhos ligados. O que um tem, o outro quer. Francisco saiu com os olhos mais escuros. João, com os cabelos arrepiados. E as duas “pulguinhas”, como o pai os apresenta, riem penduradas nos braços de Fernanda Lima, que corre descalça em volta da mesa. Agora no colo de Rodrigo, Francisco, o primeiro a nascer, dá uma mordida de dois dentes no nariz daquele que lhe deu o gene dos Hilbert.

Passemos então para a história do clã de Orleans, Santa Catarina, cidade de 15 mil habitantes que, nos anos 70, teve como prefeito Henrique Ernesto Hilbert, seu Aine, o ferreiro mais notório do lugar. Era ele quem ajudava a filha a criar os netos. Se fosse preciso, soltava a veia alemã na vara de parreira de uva nos três irmãos. Entre eles Rodrigo, o caçula, que nasceu um mês após a irmã, primogênita da família, na época com 13 anos, morrer de leucemia. “Soube que meu parto foi difícil, tive vários problemas, nasci e fui direto para a UTI”, explica ele, que herdou o azul dos olhos da mãe. Mulher forte. E linda. Eleita um sem-número de vezes princesa do baile de Orleans. A atenção dela era disputada. Ganhou Ângelo Alberton, não à toa figura famosa. “Meu pai era radialista, apresentador, músico, tocava bateria numa banda, ele era a estrela da cidade. Na minha época de moleque, por onde passava falavam: ‘Olha o filho do Ângelo’. Sentia muito orgulho dele”, discursa. Rodrigo é o preferido do pai. O escolhido para acompanhá-lo nas pescas. “A gente acampava, fazia o peixe na brasa, ele me levava pra andar de bicicleta. O que minha mãe não deixava fazer meu pai deixava”, lembra o moço.

Até que os papéis foram se invertendo e o caçula precisou ficar de olho no pai, que voltava pra casa só depois de o último bar da cidade fechar. A morte da filha mais velha fez com que ele começasse a beber. Muitas vezes, Rodrigo o esperou acordado no portão. As doses aumentavam dia a dia, e não demorou para o primeiro derrame acontecer. Sem sequelas aparentes, seguiu com o vício. Já o segundo foi quase letal. “Demorou uns cinco meses para ele voltar a reconhecer as pessoas”, recorda o filho, então com 15 anos. E conclui: “Meu pai ficou dependente para comer, andar e fala com dificuldade. Sinto muito, porque ele poderia estar curtindo essa minha história. Mas sou bem resolvido com isso, a terapia me ajudou. Falo que ele errou, ele chora”, solta Rodrigo, com a voz mansa.

Foi aí que o caçula dos Hilbert se aproximou mais da mãe. Professora, lecionava nos três turnos. Era Rodrigo que, na volta da escola, terminava o almoço que ela adiantava na noite anterior. “Sempre fui colado na minha mãe. Eu só ia pra rua se um dos meus irmãos estivesse em casa”, lembra ele, que, desde os 12 anos, trabalhava na ferraria do avô ganhando R$ 20 por semana. “Para quem morava em Orleans, dava para comprar um brinquedo. Depois, mais velho, tomar uma cerveja”, recorda. Para animar as noites de sábado, seus irmãos marcavam brigas com “gangues” de cidades vizinhas, motivadas pela disputa de meninas. Rodrigo não entrava na roda. Seu 1,90 metro de altura intimidava quem fosse. “Geralmente não apanhava, ficava só observando”, ressalva.

Palito seco
O mesmo 1,90 metro fez os olheiros da Marilyn convidarem o catarinense, então com 18 anos, a ir até a capital paulista fechar contrato com a agência de modelos e mostrar a cara nas passarelas da Phytoervas Fashion, atual São Paulo Fashion Week. “Eu era um palito, seco, seco”, conta. Para quem nunca nem tinha ido até Florianópolis – o passeio mais longínquo havia sido Laguna, onde Rodrigo passava as férias de verão –, era um grande feito. A saída do menino uniu a família: “Eles se amavam, mas não demonstravam os sentimentos. Imagina, uma casa de homens machistas do Sul. Só fui falar que amava minha mãe aqui no Rio”, desabafa.

O convite da Elite Models o fez se mudar para a capital carioca, em 2000, onde, dois anos mais tarde, foi apresentado à Fernanda. “Ali já sabia que ela ia ser minha mulher”, revela. Mas nega que tenham namorado por tanto tempo. Relacionamento firme só há menos de três anos, e com uma separação no caminho. “Sempre fomos sinceros um com o outro. No começo a gente nunca namorou, eu estava buscando a minha vida e ela a dela. As pessoas é que diziam que a gente namorava”, revela. Mesmo com alguns anos de Globo e participações em novelas como América (2005) e Pé na Jaca (2006), ele só foi reconhecido na rua em 2007, quando venceu o quadro “Dança dos Famosos”, do Domingão do Faustão.“Foi um divisor de águas, só aí as pessoas começaram a acreditar em mim”, conta ele, que em seguida ganhou mais destaque em Duas Caras (2007). Agora, aos 29 anos, aproveita as férias depois de Três Irmãs, novela na qual fazia o surfista Gregg, um dos protagonistas.

No dia da entrevista, chegava à casa da família, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio, a sinopse dos capítulos de estreia do próximo folhetim das oito, Viver a Vida, de Manoel Carlos. O que ele dizia saber – ou o que podia contar – era que em maio viajaria a Israel para o início das gravações. Mas parecia não ter pressa em abrir o envelope. Porque agora é tempo de ficar com os filhos. De se jogar com eles no quarto de brinquedos, de cozinhar as receitas de família. É tempo de ser pai. “A paternidade vai te mudando. Foi uma pancada perceber que duas pessoinhas dependem de mim, que tenho uma família pra criar, que preciso trabalhar pra isso. Cheguei a pensar: ‘Será que vou conseguir?’”, reflete. E emenda: “Você se dá conta de que não quer mais nada para você, só para eles, virei um pai exemplar”, brinca, fixando a atenção na mulher, que leva João pelo jardim. “Eles são bem ligados a mim, mas não como com a mãe. É impressionante, eles sentem o cheiro da Fernanda de longe”, revela. Tem ciúmes? “De jeito nenhum, se estão felizes, está tudo bem. Vou ter o meu tempo, daqui a pouco vão querer surfar, eu é que vou levá-los”, aposta.

Fernanda interrompe a conversa para, em voz baixa, combinar os afazeres do dia. Ela se despede. Rodrigo a olha como se fosse a primeira vez. “Depois que ela colocou meus filhos pra fora, tem direito a tudo. Eles nasceram de parto normal, coisa que para gêmeos é complicada. A Fernanda no maior trabalho e eu ali, de mãos atadas, pensando: ‘Passa um pouco dessa dor pra mim’. Tentava acalmá-la, mas estava tudo nas mãos dela. Então ela pode fazer o que quiser. Sou apaixonado demais”, declara, antes de instruir o caseiro sobre os cuidados com o gramado da casa. No dia seguinte, a família de Orleans por lá desembarcaria, para comemorar o aniversário de 1 ano de Francisco e João. E para ver de perto que o legado dos Hilbert vai longe.

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