O Ovo é brasileiro

por Luara Calvi Anic
Tpm #87

Deborah Colker é a primeira brasileira a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil

A primeira mulher a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil é brasileira e se chama Deborah Colker. Há 15 anos tocando sua Companhia e com a direção de nove espetáculos no currículo, Deborah faz o Ovo nascer este mês, em Montreal

Deborah Colker está rouca. Nos últimos dois anos, a coreógrafa e bailarina tem berrado com artistas vindos de diferentes partes do mundo. A brasileira foi convidada para dirigir um espetáculo do grupo Cirque du Soleil – justamente na comemoração de seus 25 anos. Primeira mulher a assumir esse cargo, são 53 pessoas na arena prontas para ouvir suas instruções.

A carioca levou para o Canadá a assistente Jacqueline Motta, o produtor musical Berna Ceppas e o cenógrafo Gringo Cardia – parceiros de trabalho na Companhia Deborah Colker, no Brasil. Como no mais recente espetáculo, Cruel.

Com estreia marcada para maio, em Montreal, Ovo não tem previsão de chegar ao Brasil. Do Canadá, e já com passagem marcada para a Alemanha – onde Cruel estreia mais uma temporada –, Deborah conversou com a Tpm por telefone.

Tpm. Por que você está rouca?

Deborah Colker. Porque estou exausta! Tem 53 pessoas no palco, 9 músicos e 44 artistas. Acrobatas do mundo inteiro. É claro que falo no microfone, mas é emoção, cansaço, tudo misturado. Tem artista russo, chinês, japonês, inglês, canadense, francês, suíço e um brasileiro. São sete línguas. Temos um tradutor pra cada língua. Inclusive para o português. Não dá nem tempo de falar português com o brasileiro.

O que tem de Deborah e o que tem de Cirque nesse espetáculo?

É um show que está comemorando 25 anos, com 20 espetáculos que são sucesso no mundo inteiro. Então, eles têm uma série de regras. Alguns formatos consegui quebrar ou mexer. Outros respeitei, e é bom respeitar. São duas assinaturas fortes. A minha movimentação é muito diferente da movimentação do Cirque. No meu espetáculo, Ovo, só quis ter acrobatas, não usei nenhum bailarino. Fiz todos eles se movimentarem, dançarem. As pessoas que conhecem a Companhia olham os detalhes e falam: “Vejo todos os seus espetáculos aqui”.

Você não dançou em Cruel justamente porque estava trabalhando no Cirque. Como foi, pela primeira vez, não dançar num espetáculo dirigido por você?

Conseguiu coordenar as duas peças ao mesmo tempo? Ano passado já estava envolvida com o Cirque. Fui e voltei do Canadá 12 vezes em um ano. Foi cruel. Acho que botei esse nome no espetáculo porque foi tão cruel pra mim parar de dançar, não estar no palco. Sofri, mas ao mesmo tempo nem tive tempo de pensar. Consegui passar três meses totalmente no Brasil. Subi na presidência do Cirque e falei: “Estou fazendo esse trabalho [Cruel] há dois anos, vocês entraram no meio desse caminho. Estou no fim desse processo, preciso mergulhar dentro desse universo, preciso estar ali”. O Gilles Ste-Croix , vice-presidente do Cirque, foi até a equipe e disse: “A Deborah Colker tem que estrear seu espetáculo. Não é bom que uma diretora do Cirque, a primeira mulher, faça um espetáculo ruim. Cruel tem que ser um sucesso!”.

Você conseguiu levar sua equipe brasileira para o Cirque?

Foi uma briga danada trazer minha equipe. “Gente, preciso dos meus assistentes aqui!” Estão comigo o Berna Ceppas, da música, o Gringo Cardia, do cenário, e a Jacqueline Motta, minha assistente na dança. O Ulisses Cruz, da dramaturgia, esteve aqui durante um mês. Exigi desde o início que eles estivessem comigo. Meu apelido no Cirque é “the fighter”, a briguenta. Briguei muito para conseguir as coisas. Tenho meu trabalho, tenho a Companhia há 15 anos, nove espetáculos com a minha assinatura. Então, se é pra me trazer, é da maneira que eu trabalho e penso.


Qual a idade média dos artistas?

A maioria tem de 20 a 25 anos. Uma das grandes estrelas desse espetáculo é um menino de 17 anos que eu adoro. Os caras que estão na parede de escalada tem 20, 22 anos. Não é fácil. Tem apresentação de terça a domingo, sendo dois shows às quintas e aos sábados com duas horas cada. Um total de nove shows por semana. Os clowns [palhaços] são mais velhos, têm de 30 a 50 anos.

E onde o ovo está no enredo do espetáculo?

É a história de um estrangeiro, uma mosca, que chega com um ovo numa comunidade de insetos. A comunidade fica enlouquecida com os sons que o ovo faz, com esse tesouro que chegou. E esse inseto se apaixona por uma joaninha grandona. Na verdade, uma negona americana de Nova York, uma clown. Ela estava esperando por esse amor, esperando que algo acontecesse na vida dela.

E o frio canadense, como está?

Agora está maravilhoso, três graus. Normalmente são 25 abaixo de zero. É barra-pesada!

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