Com muito sofrimento consegui ficar incríveis 24 horas ser ler nenhuma matéria. Senti um mau humor, um vazio no peito
Todo dia ela faz tudo sempre igual. Acorda, entra no Twitter. Roda toda a timeline para ver "o que está acontecendo". Depois, vai para a home do UOL e para a da Globo.com. Entra no Facebook e lê vários textos de blogs de notícias. Tudo isso, antes do café. Essa pessoa sou eu, Nina Lemos, viciada em notícia.
Eu sei que a overdose de fatos me faz mal. Por isso mesmo, topei dar um tempo. Fazer um detox. Uma limpeza. Lindo na teoria, mas foi um dos maiores sacrifícios que já fiz por esta revista. Tentei vários dias e falhava. Meu objetivo sempre foi modesto: 24 horas sem ler nada. A primeira tentativa caiu no dia 17 de março. O Brasil fervendo. Não deu pra aguentar. Depois de 6 horas sem ler nada e até fazer faxina para não recair, o mau humor chegou a níveis inimagináveis e, à noite, recaí: acabei lendo alguns textos de análise sobre as manifestações do 15.
No dia 18 acordei resoluta. Não entrei no Twitter (a porta para as notícias do capeta). Vi no Facebook que a Dilma lançou um pacote anticorrupção. Não li nada sobre ele. O que fiz para conseguir ficar 24 horas sem ler notícia? Me ocupei. Lavei um bom tanque de roupa metafórico. Depois de trabalhar, fui ao supermercado. Carreguei peso. Lavei louça. E, graças a deus, tinha aula de alemão. Foi a primeira vez que fiquei feliz com isso.
Na volta, quando entrei no Facebook, estavam falando alguma coisa sobre o ministro da Educação, Cid Gomes. Apenas falei para meus amigos em Berlim: "Tem algum bafo acontecendo e eu não sei o que é". Orgulho. Conversei sobre outras coisas. Minha mãe me liga e antes de iniciar a conversa grito: "Não fala nada!". Dormi cedo e acabei de ler um livro!
Conclusão: sou dependente de grau elevado. No meu primeiro dia de tentativa senti um mau humor terrível. Foi como ficar sem café. Faltava algo. No dia seguinte, só funcionou porque me impus um "lavoura rehab".
Talvez, não é certeza, eu tenha acordado mais leve depois do meu dia sem notícias. Mas assim que abri os olhos catei o iPhone como um viciado em craque pega uma pedra e entrei na home do UOL. Meu deus, o ministro da Educação tinha pedido demissão depois de causar o maior bafo no Congresso. Fiquei meio triste por ter perdido tudo em tempo real (dependente!). Mas dormi a noite toda. Se não estivesse em detox, ficaria acordada até umas quatro da manhã vendo tudo sobre o tema. Lição: vou continuar tentando "desmamar" das notícias na parte da noite. Mas desconfio que não consiga. O mundo sem notícias, ao menos para uma jornalista, é tipo... "Claudinho sem Bochecha, Romeu sem Julieta".
