por Lia Hama
Tpm #150

Há dois anos, a jornalista Carolina Bernardes decidiu experimentar uma vida sem dinheiro viajando pelo Brasil e pela América Latina à base de escambo

Dinheiro não é problema na vida da jornalista Carolina Bernardes, 26 anos. Há dois anos ela decidiu largar o emprego em São Paulo e experimentar uma vida com menos consumo e baseada em trocas. Carol viaja de carona e faz bicos pra conseguir comida e hospedagem. “Trabalhei em ONGs, ajudando a elaborar projetos ou orçamentos. Também fui assistente na cozinha de um templo budista”, explica. Com mochila e barraca nas costas, já viajou pelo Brasil e por Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia. Em abril, ela parte rumo ao México a bordo do veleiro Rusalka. Entre uma viagem e outra, Carol falou à Tpm

Como surgiu o convite para viajar de veleiro? Fiquei amiga desse casal mexicano, Marc Rosenfeld e Daniela Ambrosi, em Ubatuba, no litoral paulista, meses atrás. Há dez anos eles navegam pelo oceano Atlântico e não têm dinheiro no momento para pagar uma tripulação. Vimos que poderíamos fazer uma troca: eles me ajudam a realizar meu sonho de aprender a velejar e eu ajudo no que eles precisarem dentro do barco. Assim, aos poucos, vou dando a minha volta ao mundo. 

Como conseguiu alimentação e hospedagem nas suas viagens pela América Latina? Muitas vezes ia a restaurantes e me oferecia para trabalhar em troca de comida. Lavava louça, ia conversando e fazendo amigos. Para dormir, esticava a rede ou acampava na casa das pessoas que eu ia conhecendo pelo caminho. Às vezes, elas me ofereciam uma cama. Elas tinham muita curiosidade em conhecer a minha história e foram muito generosas. Na hora de eu ir embora, me davam um monte de presentes. 

O que mais você leva na bagagem? Uma mochila pequena com roupas que mudam de acordo com a estação. No inverno, ganho roupas de frio e dou as minhas de calor. No verão, o contrário. Antes eu levava computador, tablet e câmera fotográfica. Mas o computador foi destruído por um garoto com síndrome de Down. Ele ficou com ciúmes da atenção que eu recebia da mãe dele quando eu participava de um projeto com crianças especiais. Já o tablet e a câmera foram roubados numa viagem de barco de Belém a Manaus. Mas não fiquei nervosa porque eu tinha ganhado aquele tablet. 

Já entrou em alguma roubada maior? Não. Acho que tem a ver com meu estilo de vida, eu durmo cedo e levanto cedo. E tudo o que eu carrego podem me roubar porque não vai fazer muita diferença. Gosto das minhas coisas, mas consigo viver sem elas. 

O que você fazia antes de começar a viagem? Morei em São Paulo por três anos. Trabalhava na Aliança Empreendedora, uma ONG voltada para o empreendedorismo de pessoas de baixa renda. Quando decidi largar o emprego, queria estudar fotografia. Fiz então uma vivência de quatro meses na Casa Fora do Eixo, uma residência da rede de grupos culturais que fica no bairro da Liberdade. Aquilo abriu muito a minha cabeça, vi que na verdade a gente precisa de muito pouco para viver.

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