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por Natacha Cortêz
Tpm #146

O órgão com mais terminações nervosas do corpo é também um dos menores e o menos estudado pela medicina. O clitóris é fanfarrão, só existe para dar prazer, e já foi perseguido por isso

No dicionário, a palavra clitóris tem seu primeiro registro em 1789 e significa “pequeno órgão erétil do aparelho genital feminino, situado na porção anterior da vulva, que se projeta entre os pequenos lábios, e é composto de uma glande, um corpo e dois pedúnculos”. No www.achando.info, página que brinca com a etimologia das palavras e propõe definições popularizadas para elas, a descrição é: “Melhor parte para se lamber”. Aqui, pinçamos algumas curiosidades sobre a parte da anatomia feminina menos estudada na história e também a mais crucificada. Nem a ciência nem as religiões nunca ficaram muito à vontade com o clitóris. “Na época da caça às bruxas, um clitóris grande era considerado uma marca do Diabo. Na mesma época, diziam que a masturbação causava cegueira e até mesmo morte prematura. Especialistas diziam que a excitação sexual destruía o equilíbrio mental das mulheres e culpavam o clitóris por acionar esse prazer maldito”, ensina o documentário Clitóris, prazer proibido*, uma coprodução de França e Grã-Bretanha, lançado em 2003 e veiculado no Brasil em 2010, pelo canal GNT. 

Pontinho nervoso

“O clitóris é a única parte do corpo cuja função exclusiva é proporcionar prazer. Por isso ele é tão incrível! Seu funcionamento é parecido com o do pênis: quando se está excitada, seu fluxo sanguíneo o faz crescer e ele se torna mais rígido e protuberante. É quase como uma ereção. Mas o clitóris é muito mais sensível. Aliás, ele tem mais terminações nervosas do que qualquer outro órgão: no total são 8 mil na ponta de sua pequena cabeça. No pênis, são 4 mil ou 6 mil. Já a vagina quase não tem terminações nervosas. Ela é feita pra ser relativamente inerte justamente por causa do parto”, escreve Natalie Angier, jornalista, escritora e autora do livro Mulher – Uma geografia íntima.

Ponto G ou ponto Ghost?

“O estudo do clitóris sempre foi dominado por fatores sociais. Alguns livros de anatomia, inclusive, excluem a descrição do órgão, enquanto dedicam muitas páginas ao pênis”, diz Helen O’Connell, urologista australiana que, literalmente, dissecou os órgãos sexuais femininos. Ela, inclusive, é categórica quanto ao ponto G: “Nas dissecações não encontramos nada que seja equivalente ao ponto descrito por Ernst Gräfenberg, chamado de ponto G. O orgasmo feminino está sempre relacionado ao clitóris”.

Livrai-nos de todo mal

“Em 1865, o então presidente da Sociedade Inglesa de Medicina disse que o clitóris era o responsável pela histeria, epilepsia e por outras formas de loucura. Ele propunha a retirada do clitóris para sanar o mal. Felizmente, foi considerado louco por seus colegas de profissão e afastado da medicina. Mesmo assim, seu método não sumiu completamente e muitas mulheres continuaram sendo mutiladas até os anos 1920”, lembra o documentário Clitóris, prazer proibido.

Pega no meu itil

A palavra clitóris vem do grego kleitoris, e quer dizer “chave”. O curioso é que essa palavra é praticamente a mesma em muitos países, seja na escrita, seja na pronúncia. É clitoride, em italiano. Klitori, em checo, dinamarquês, finlandês, norueguês, alemão, entre outras línguas. As que soam um pouco diferente: kelentit, em indonésio, e itil, em islandês.

Amor, acende a luz?

Em português o clitóris tem poucos apelidos, pito é um deles. Enquanto isso suas vizinhas vulva e vagina têm centenas! O organizador do dicionário Houaiss, Antônio Houaiss, avaliou em texto de 1985 que falta um vocábulo popular próprio e universal no país para clitóris. Segundo ele, acaba-se recorrendo a metáforas como botão.

Chupa, pinto!

Ele não envelhece nem enfraquece. Enquanto a mulher vai ficando mais velha, a sensibilidade do clitóris permanece a mesma e se mantém assim para o resto da vida. Então, a capacidade de atingir um orgasmo não tem idade para acabar. Viagra, pra quê? 

*Assista ao documentário Clitóris, prazer proibido:

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