por Millos Kaiser
Tpm #145

Difícil imaginar uma pessoa com atributos tão díspares. Mas ela existe

Ídolo infantil, escritora, “Miss Bumbum”, namorada de Rodrigo Santoro e repórter especialista em roubadas do programa A liga. Difícil imaginar uma pessoa com atributos tão díspares. Mas ela existe. Com vocês, Mel Fronckowiak

Mel Fronckowiak nasceu, cresceu e mora até hoje em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Apesar de ter recebido inúmeros convites para se mudar para uma grande metrópole e tornar-se modelo, ela preferiu seguir na faculdade de jornalismo e hoje trabalha no jornal local. Mora perto da família, tem os mesmos amigos desde criança e namora um amigo da escola. Leva uma vida pacata, porém feliz.

Por pouco, essa não é a biografia de nossa entrevistada. Tão pouco que, vira e mexe, essa outra Mel, a que ficou pra sempre em Pelotas, surge no pensamento da Mel Fronckowiak que o Brasil todo conhece, aquela que foi protagonista da novela Rebelde, coqueluche entre os pré-adolescentes brasileiros dois anos atrás, é apresentadora do programa A liga, transmitido pela Bandeirantes, e é namorada de um dos homens mais cobiçados do país, o ator Rodrigo Santoro. “É como se outra Mel tivesse ficado em Pelotas, vivendo uma vida que não vivi. Sempre penso em como teria sido se eu nunca tivesse me mudado, e sim terminado a faculdade de jornalismo… E se agora eu estivesse no aniversário da minha mãe para poder dar um abraço nela? Perguntas assim de quando em quando me acometem”, diz a capricorniana de 26 anos, após posar para as fotos que você vê nestas páginas.

Mesmo depois de 5 horas de maquiagem, cabelo, troca de figurino e caras e bocas para a câmera, ela não economiza sorrisos ou simpatia com qualquer um que seja da numerosa equipe presente no estúdio do fotógrafo Victor Affaro. Acompanhada da assessora, Mel é a primeira a chegar no local, 15 minutos antes do combinado. Veste trenchcoat cáqui, echarpe, calça justa preta e botas de camurça – um look básico para o frio paulistano, não fosse a bolsa Prada a tiracolo.

 

"Meu bumbum faz parte de mim, e não o contrário"

 

A infância em Pelotas ela define como “doce, afinal, lá é conhecido como a terra do doce”. A pequena Melanie brincava na rua, subia em árvore. Ia andando para a escola segurando na mão da mãe, Berenice, contando e ouvindo histórias. A psicóloga, ao lado de Ângela, uma tia formada em letras, foi quem introduziu a menina, uma das melhores alunas da classe, no fantástico mundo da literatura. “Minha primeira paixão foi Meu pé de laranja-lima. Varei a madrugada lendo. Quando minha mãe foi me acordar para ir para a escola, eu nem tinha dormido ainda, estava em prantos. Minha mãe compreendeu meu luto literário, disse que eu não precisava ir para a aula e ainda acho que me levou café na cama. Aquilo foi muito importante pra mim”, rememora.

Mais ou menos um par de décadas depois, ela escrevia seu primeiro livro, Inclassificável – Memórias da estrada, lançado no ano passado. Num estilo meio “querido diário”, sem medo da pieguice, Mel faz reflexões poéticas – a maioria escrita no bloco de notas de seu celular – sobre a rotina caótica dos tempos de Rebelde, quando emendava gravações diárias com turnês pelo quatro cantos do país e shows para até 65 mil pré-adolescentes ensandecidos. Mesmo com o carinho de tantos fãs, o sentimento muitas vezes era de solidão: “Eu chegava no hotel e ligava a televisão só para ouvir um barulho conhecido, familiar, e me situar, não me sentir tão sozinha”. Vai escrever outro? “Escrevo”, responde a fã de Milan Kundera, sem, no entanto, dar maiores detalhes. “Tudo que sei é que será um romance, uma ficção. E que terá um cunho mais social, político. Acho que já sinto uma maturidade como escritora, se é que posso me chamar assim.”

Antes de ser Carla Ferrer no folhetim juvenil da Record, Mel fez parte do casting da Ford Models. Passou por Paris, Milão, Madri, Nova York e, em 2008, venceu um concurso na França para eleger a nova garota-propaganda de uma marca de lingerie, título que, diz ela, foi apelidado pela mídia brasileira como “Miss Bumbum”. “Deturparam tudo! 

 

"Namoro o Rodrigo. O Rodrigo Santoro famoso é outro. Quanto estamos juntos, não tem sobrenome"

 

Foi bom para aprender como funciona a imprensa. Mas não me arrependo. Eu estava feliz fazendo aquilo no dia”, conta. Na época, Melanie desbancou outras 11 mil concorrentes, levou 15 mil euros para casa e foi parar até no Fantástico, onde fez questão de frisar: “Meu bumbum faz parte de mim, e não o contrário”. Ela não se arrepende dos tempos em que seu trabalho era baseado apenas em seus atributos físicos: “Eu dizia: ‘Estou modelo’. Sabia que era efêmero. A beleza sempre vai embora. Temos que saber construir coisas que não vão embora, independentemente do tempo e dos vincos na pele”.

Mel & Rodrigo

Pois é. Mel é bela e inteligente. Sabe ser irônica e tira sarro até deste repórter (“Está nervoso para me entrevistar?”). “Já ouvi: ‘Nossa, depois que te conheci é que descobri que você era inteligente!’ Como assim?! O espantoso deveria ser quando a pessoa é só bonita. Que bom que cada vez mais a gente consegue mudar esses estereótipos: só pode fazer isso ou aquilo, só há esse tipo de vida a dois… Nunca tive medo de preconceito. A gente tem que saber vestir ou não as roupas que as pessoas oferecem pra gente. Eu não visto”, sentencia. “Até porque em Pelotas eu não era bonita. Era magrela e usava óculos. As coisas não eram fáceis, tinha que ler muito.”

Como apresentadora do programa jornalístico A liga desde março, Mel retornou ao assunto que estudou por um ano na faculdade, antes de ingressar na vida de modelo. Sua primeira missão já foi casca-grossa: acompanhar a entrada do Exército e da Marinha num Complexo da Maré para lá de tenso. No meio do caos, deparou-se com uma usuária de crack totalmente fora de si, grávida de cinco meses. Mel sentou no chão ao lado da mulher, começou a conversar e tentou acalmá-la, enquanto a câmera registrava tudo. “Não me sinto separada do público ou dos personagens. É tudo muito sensorial, palpável. Não dá pra se esconder. Converso com travesti, morador de rua… Não estou ali para julgar ninguém, dizer que a vida de alguém é melhor ou pior. Ela é o que é, e nós estamos ali conversando sobre isso. Essas roubadas só me enriquecem, me fazem ser uma pessoa melhor.”

Além de ex-Rebelde e integrante de A liga, outro aposto acompanha Mel, sobre o qual ela não gosta de falar muito: namorada de Rodrigo Santoro. Os dois teriam se conhecido na pré-estreia de Heleno, estrelado pelo galã. “Sim, sou namorada dele, dentre outras coisas”, ressalta. Ok. Mas conta aí o que pelo menos metade do Brasil quer saber: como é namorar o Rodrigo Santoro? “Não sei” é a resposta. “Namoro o Rodrigo. O Rodrigo Santoro famoso é outro. Quando estamos juntos, não tem sobrenome.” O ator tem passado bastante tempo em Los Angeles, enquanto Mel fica entre Rio e São Paulo. Um namoro meio a distância, portanto. “Mas quando a gente gosta, dá um jeito.”

Modelo, cantora, dançarina, apresentadora… depois de fazer de tudo um pouco, Mel diz que nunca se sentiu tão confortável quanto agora, no programa da Bandeirantes: “Como modelo, você está à disposição de uma marca. Como atriz, de um personagem. Como apresentadora, repórter, sou eu mesmo ali, e isso é muito legal”. Ambiciosa, “não no sentido de acumular fortunas, mas de acreditar que tem coisas que são minhas e que vou correr atrás delas”, ela quer mesmo é ser cada vez mais apenas Mel Fronckowiak. Sem se esquecer, é claro, daquela outra Mel que ficou para trás. “A gente tinha que ter duas vidas. Uma para experimentar, ver o que dá certo, e outra para viver. Mas, infelizmente, só temos uma. Por isso, sigo um ditado que adoro: ‘Escolha tomada, escolha acertada’.”

Créditos

Imagem principal: Victor Affaro

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