por Mara Gabrilli
Tpm #145

Inventei meu domingo e percebi que sou tetra-atleta

Acordei com o desejo de fazer tudo diferente só para poder te dedicar. Escrever para a Tpm me obriga a viver com intensidade para ter o que contar... E algo aconteceu no domingo. A despeito do que sempre acontece, tive um momento sem compromissos óbvios. E fui inventando meu dia a cada hora.

Minha primeira atitude foi criar algum exercício que, além de me pôr em movimento, pudesse servir de exemplo para outras pessoas. O interessante é que eu me mexer demanda muito do meu cérebro, um esforço além do físico, até porque o que penso não reproduz movimento muscular tradicional.

Passo semanas olhando as paredes da minha casa, meus tecidos e elásticos, quebrando a cabeça, buscando soluções que me tirem do estático. Quando isso acontece, o prazer é singular. Nesse momento, parece que Deus sorri por perceber que esqueci que sou tetra. Meu prazer se consagra ao dividir esses experimentos.

Fui curtir o sol e os temperos que plantei em uma jardineira. Acabei na cozinha. Fiz uma sopa de músculo, com ervas. Existe coligação na minha forma de pensar, agir e me alimentar.

Não me importa o que isso lhe pareça, mas “eu adoro dar”, de forma ampla... Dar de mim... Meu sorriso, minha vontade de me mexer, meu amor, minhas receitas, meu trabalho, minhas ideias, minha energia diária para ver a vida das pessoas melhorar. Já entendi que preciso dadivar e viver em paradoxos. A gente ganha do mundo quando sabe perceber tudo que é presente.

Revelações

Me sinto uma tetra-atleta, que adora se sentir qualquer pessoa. É o que me nutre de forças para ser muito mais do que isso. Não mexo do pescoço para baixo e certamente um médico do INSS me aposentaria por invalidez, mas fui cogitada candidata a vice-presidente do Brasil, na chapa do Aécio Neves.

Gosto de exercício respiratório e de exercitar a verdade. Estou começando a inferir raciocínios políticos, que antes visivelmente não faziam parte da minha história. Na realidade, eu não os via. Parecem revelações aprendidas.

Tipo este: “Quando conseguimos melhorar a vida de alguém, a vida de todos nós melhora junto”. Eu já sabia disso. Mas não era um raciocínio político para mim.

Hoje sei, na prática do meu trabalho, o quanto a boa conduta multiplicada tem um efeito positivo muito forte na vida de todo mundo. Isso me serve para dirimir qualquer dúvida entre fazer ou não fazer, e qual dos caminhos irei seguir diante de uma encruzilhada.

Esse é um bom exercício de poder e de poder fazer bem-feito!

Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Pró­ximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br

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