por Antonia Pellegrino
Tpm #144

Meu filho Lourenço e o renascimento da política brasileira são contemporâneos

Meu filho Lourenço e o renascimento da política brasileira são contemporâneos, em algum momento do futuro breve se encontrarão. Mas não hoje, porque tem jogo da seleção.

Aqui não tem dia que não comece cedo e 17 de junho não foi diferente. O menino que há um ano nadava na minha barriga hoje acordou às 6h30 cheio de xixi e fome.

Em vez de lhe dar bom dia, tive vontade de dizer: “Feliz Natal”, em comemoração ao primeiro ano do #despertamos, #ogiganteacordou. Meu filho Lourenço e o renascimento da política brasileira são contemporâneos, começam a dar seus primeiros passos e, em algum momento do futuro breve, ambos se encontrarão. Numa sociedade mais justa? É para isso que os de boa-fé trabalham.

Desde o dia anterior minha cervical padecia de uma dor há um tempo aguda e indefinida, como se não fosse muscular, mas por baixo do músculo. Consegui hora no Leo, o osteopata incrível do outro lado da rua, que, em vez de colocar suas mãos no meu pescoço, mexeu no meu olho direito e no fígado, partes do corpo relacionadas ao que ele identificou como o ponto de dor, o músculo responsável por nossa cabeça fazer sim ou não. “Talvez você esteja dizendo sim para o que deve dizer não”, disse ele, e eu pensei que estou dizendo não para o que devo dizer sim. Mas agora basta.

Sim, fui caminhando através das aleias do Parque Jardim Botânico até meu escritório, me sentindo um lince de olhar aprumado que a partir daquele dia não deixaria de atentar para o verde das folhas, a floração do jambo e a troca de casca do pau-mulato. Sim, eu não mais permitiria a preguiça do olho direito sobrecarregar o esquerdo, e agora ele aprenderia a viver mais focado.

Foi o que fiz na última reunião de edição do meu primeiro livro, Cem ideias que deram em nada, editora Foz, a ser lançado em agosto. Ficamos eu e Isa Pessoa, a sensacional editora e amiga querida, a catar vírgulas fora do lugar e frases que não expressam o que se pretende dizer, até termos passado por todas as cem ideias, e acharmos que, finalmente, o conjunto deu em alguma coisa.

Finda a reunião, era hora de, como uma garota à espera do namorado, arrumar cabelo e maquiagem e ficar parada na calçada a aguardar o carro branco despontar na rua dirigido pelo Francisco, com nossos dois filhos e Janaína Félix, a entusiasmada babá, a bordo. Estávamos a caminho da casa da Gilda Midani, que aniversaria no 17.

Então teve bolo, quiche e parabéns. Teve música, amigos e risadas. Teve também Brasil e México, que os meninos assistiram na sala de assistir sério, enquanto as meninas jogadas na cama falavam dos cabelos dos jogadores e gritavam a qualquer aproximação da bola ao gol – mesmo que fosse o nosso.

*Antonia Pellegrino, 32 anos, é ro­te­irista e escritora. É dela o roteiro da série Oscar Freire 279. Ela ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro pelo roteiro do filme Bruna Surfistinha. Seu e-mail: a.pellegrino@terra.com.br

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