Somos todos racistas?

por Tania Menai
Tpm #141

Se conviverem desde pequenas, crianças de origens diferentes levarão essa postura à vida adulta

O preconceito racial só vai diminuir quando colocarmos o maior número de crianças de origens diferentes na mesma sala de aula. Se conviverem desde pequenas, levarão essa postura à vida adulta

Um dos mais divertidos e bem escritos musicais da Broadway (que chegou a ser adaptado para o Brasil) chama-se Avenue Q. E lá tem uma música que diz que “todo mundo é um pouco racista. E tudo bem”. Claro que esse “tudo bem” não implica em extremismos – ninguém pode ofender o outro ou deixar de contratar por causa disso. Mas diferenças sociais e culturais existem e cabe a nós aprender a conviver com elas. Há mais de uma década, assisti a Hillary Clinton palestrar na Universidade de Columbia para os alunos de pedagogia. Ela dizia que essas adversidades só vão diminuir quando colocarmos o maior número de crianças de origens diferentes na mesma sala de aula. Se elas conviverem desde pequenas entre si, levarão essa postura para a vida adulta.

Nova York tem uma diversidade sem fim, o metrô é uma festa de cores de pele e turbantes, e muitos casamentos são inter-raciais. Mas não existe racismo? Claro que existe. Por isso, tenho que concordar com Hillary: quando as pessoas são niveladas por meio da educação, as diferenças diminuem. Muitos desses noivos e noivas de origens distintas entre si se conheceram na faculdade. No Brasil, isso seria quase impossível. Apesar de o porto do Rio de Janeiro ter recebido o maior número de negros na época da escravidão (o Brasil importou 4,9 milhões de africanos, enquanto a América do Norte recebeu 389 mil), na minha faculdade de comunicação no Rio lembro de apenas uma estudante mulata; ela era adotada por uma família branca. 
Nós, brasileiros, estamos infinitamente atrasados no quesito em relação aos Estados Unidos, onde os diretores da escola pública na qual sonho matricular a minha filha são todos negros. Minha filha e eu somos judias.

Nem na Noruega

Enquanto isso, no Brasil, meu amigo Fábio abre uma revista de moda infantil e nota que todas as modelos são loiras, uma é asiática (em um anúncio) e a única negra está de avental. Segundo ele, um músico renomado com um pé em São Paulo e outro na Europa, nem na Noruega é assim. E o racismo no Brasil, que é fortíssimo, deve aflorar ainda mais quando negros e brancos competirem pela mesma vaga de trabalho, o que ainda não acontece.

Quando assisti ao filme 12 anos de escravidão, em Nova York, muitos meses antes de ele ser indicado ao Oscar, tive vontade de pedir perdão a cada um dos negros na sala de cinema, que, assim como eu, ficaram uns 10 minutos chorando antes de levantar. Eles devem ter sentido a mesma coisa que eu quando assisti a A lista de Schindler, lembrando dos meus bisavós alemães assassinados num campo de concentração nazista, em 1944. Por que mesmo? Ah, por serem judeus.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, e do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com

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