O tempo está ao seu lado

por Carol Sganzerla
Tpm #125

Juventude é virtude e velhice defeito? Uma edição especial sobre envelhecimento

Você tem duas opções:

a) envelhecer

b) morrer

Se tudo der certo, você fica com a primeira opção. Nesse caso, a próxima pergunta de múltipla escolha estético-existencial será algo como:

a) envelhecer, sem deixar de ser você mesma

b) envelhecer, tentando desesperadamente se transformar em outra pessoa – alguém que se parece vagamente com você, a não ser pela testa congelada, pelos olhos levemente assimétricos e pelos lábios que parecem mais um sashimi do que uma boca.

Separando as duas opções, resta apenas o bom senso, que alguém já definiu como “a coisa mais mal distribuída do mundo”. Uns com tanto, outros com tão pouco. Como saber a hora de parar? Não digo parar o tempo, que qualquer fã do Cazuza sabe que não para, mas parar de insistir em parecer ter uma idade que, simplesmente, não é a sua.

Não é que alguém deva parar de se cuidar, largar os cremes, sei lá, ou a drenagem e o ácido retinoico recomendado pelo dermatologista para passar no rosto antes de dormir. Mas é importante não perder de vista a diferença entre envelhecer bem e virar um mostruário de tratamentos e procedimentos de resultados duvidosos – que, ao fim e ao cabo, em vez de rosto mais jovem, deixa a pessoa com rosto de quem fez plástica ou Botox.

Exagero? Os números impressionam. O Brasil lidera o ranking mundial de blefaroplastia, mais conhecida como a cirurgia que retira o excesso de pele da pálpebra. Na modalidade Botox, só fica atrás dos Estados Unidos. E, com tudo em cinco vezes no cartão, a coisa não dá sinais de melhora. E, mesmo que desse algum sinal, logo alguém iria sugerir um preenchimento ou algo assim.

O paradoxo é que, num país cada vez mais velho, a velhice esteja se tornando sinônimo de defeito, de prazo de validade expirado antes da hora – e aí aparecem eufemismos do tipo “melhor idade”. De acordo com o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a expectativa de vida aumentou incríveis 25 anos de 1960 para cá. Com isso, a probabilidade de passar mais tempo por aqui, ver netos e bisnetos crescerem deu um salto extraordinário.

Vinte e cinco anos: o tempo está ao seu lado, e não contra você.

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