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por Bruna Bopp
Tpm #121

O Darkson de Avenida Brasil mostra porque sua audiência sobe dentro e fora da novela

 Sucesso como o malandro Darkson de Avenida Brasil, o estreante José Loreto conquista a vizinhança do subúrbio e cativa a plateia na Zona Sul

Acabou o refresco. O que antes era um mergulho solitário na piscina do condomínio onde mora – sozinho –, na Barra da Tijuca, virou atração das vizinhas cariocas. José Loreto tem atraído plateia. Quer dizer, não só lá, mas por onde passa: da farmácia ao shopping, os comentários chegam aos montes. Até elogio de um segurança ganhou. “Pensei que ia levar um esculacho, mas ele veio falar que eu tava arrebentando”, lembra.

Mostrando certa timidez, o ator anda vivenciando o assédio, que ganhou força por causa do sucesso de Avenida Brasil, sua estreia em uma novela das nove. A parte boa é que, no papel do malandro Darkson, locutor de uma loja de roupas femininas no fictício bairro do Divino, onde anuncia calcinhas no meio da rua, as abordagens são bem-humoradas. “As mulheres me pedem calcinhas, falam que, se eu não der certo como ator, tem uma loja de lingerie pronta para eu tocar em qualquer lugar”, conta, com um carregado sotaque carioca. Enquanto fala do trabalho, Zé não disfarça a empolgação – aliás, empolgado é uma das palavras que mais repete depois de “maravilhoso”, adjetivo que tem usado para caracterizar tudo: o personagem, o momento profissional, o contato com os fãs...

Quem planta...
Zé diz ter “se entregado 400%” para conseguir o papel. Além de passar duas semanas no Saara (área de comércio popular a céu aberto no Rio) para ganhar fôlego para o teste – chegou a fazer bico de vendedor para pegar os bordões dos locutores de rua –, frequentou bailes charme, um hip-hop mais soft, na Gafieira Estudantina. “Nem sabia que conseguia dançar. Só fazia a dança do ombrinho. Agora, se tenho folga, vou para o baile. Estou quase no nível avançado”, brinca.

A disciplina e a concentração que o ajudam na rotina – ele grava pelo menos quatro dias na semana – vêm do judô, que pratica desde os 5 anos. Faixa preta, acredita que o esporte o deixou mais desinibido nas cenas em que precisa aparecer nu. “Já tive que me pesar pelado na frente de um monte de gente. Então, acho que me acostumei e nem ligo de fazer cenas de sexo com a equipe olhando”, explica.

 

“As mulheres me pedem calcinhas, falam que, se eu não der certo como ator, tem uma loja de lingerie pronta para eu tocar em qualquer lugar”

 

Entre ele e Darkson, seu personagem, Zé enxerga o mesmo “lado bonzinho”. “Ele sabe o que é certo e dá bronca quando o pai [vivido pelo ator Ailton Graça] erra com a namorada. Sou um pouco assim com os meus amigos quando o papo é mulher”, comenta. Namorando há dois anos uma arquiteta carioca, conta que não gosta nem se imagina sozinho. “O mais legal de um relacionamento é ter intimidade. As pessoas solteiras podem ser até um pouco pudicas por não saber lidar com um corpo desconhecido, não saber aonde ir na hora da transa, por exemplo. E no relacionamento não, você já tem intimidade para fazer o que quer, para também não fazer quando não está a fim. Mas, para manter a paixão, o sexo é fundamental”, teoriza.

E uma calcinha bege? Faz perder todo o clima? “Não precisa ser muito elaborada, mas também não precisa ser bege, né? Uma pretinha básica ou uma vermelhinha de vez em quando é superatrativa, superatraente. A calcinha é a base da vestimenta feminina, como o Darkson já falou e eu concordo”, resume.

Nascido em Niterói, formado em teatro pela Casa das Artes de Laranjeiras e em cinema pela Estácio de Sá, demorou para Zé convencer seus pais, um médico e uma professora, da carreira artística. Teve, então, que cursar economia. “Viajei para Hollywood e lá percebi que queria ser ator mesmo. Fiz uma ‘chantagem’ com meus pais, dizendo que só voltaria se me deixassem estudar teatro. Foi assim que entrei na CAL”, recorda.

Carisma
Seu primeiro teste para a TV, em 2005, o levou para o elenco de Malhação e lá ficou por dois anos. Participou de alguns seriados, novelas e viajou o país com a peça Garotos, de Leandro Goulart. “Parece que demorou um bocadinho, mas foi perfeito. Deu para conhecer bastante coisa e agora estou preparado”, afirma, aos 28 anos, com um sorrisão no rosto.

 

“As pessoas solteiras podem ser até um pouco pudicas, não saber aonde ir na hora da transa, por exemplo. E no relacionamento não, você já tem intimidade para fazer o que quer”

 

Enquanto apaga as três tatuagens falsas que usa para o personagem, Zé revela um lado doce, quase incompatível com seu porte grande e o 1,84 metro de altura. Fala com admiração dos ídolos com quem contracena, como o ator Marcos Caruso. Outro dia contou para a namorada: “O Caruso disse que meu trabalho estava muito bom. Pra você entender como isso é importante, é como se Oscar Niemeyer te elogiasse”. Caruso retribui: “Admiro a energia cênica dele. Admiro os obstinados, e o Zé é um deles. Vejo a determinação, o estudo e a pesquisa impregnando o seu trabalho”, crava. E acrescenta: “Ele alia três condições básicas para o trabalho do ator: a curiosidade, a inteligência e a disponibilidade. Além do carisma, que não se adquire. Ele teve a sorte de tê-lo”. Quem cruzar com José Loreto ao vivo vai concordar com Caruso – e até querer usar o megafone de Darkson para avisar que o Brasil acaba de ganhar um novo candidato a galã.

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