Palavra de mulher

por Fernando Luna
Tpm #111

Nosso diretor editorial lista frases femininas e as resume em uma única palavra: respeito

O melhor movimento feminino não é o dos quadris – é o da língua.

Ou melhor, o da linguagem. Basta ler os cartazes de qualquer passeata feminista, das sufragistas às vadias, para comprovar o que os neurocientistas já sabem: mulheres são melhores que homens para juntar sujeito, verbo e predicado.

Se fosse preciso, havia uma formulação mais emocional, apelando diretamente aos sentimentos do presidente (dos Estados Unidos): "Sr. Presidente, quanto tempo as mulheres terão que esperar pela liberdade?".Desde o princípio é assim, e no princípio era o voto. Inglesas e norte-americanas começaram a luta pelo direito de escolher seus representantes na política. O slogan era simples como a causa: "Votos para as mulheres".

Nos anos 60, a luta continuava – devidamente revista e ampliada. Se os direitos políticos estavam garantidos, ainda faltavam outros. Muitos. Direito a estudar, a exercer uma profissão, a ficar solteira, a fazer sexo antes do casamento, a fazer sexo durante o casamento (mas não durante a cerimônia, ainda um tabu), a terminar o casamento, a gostar de sexo. Coisas que, aliás, não eram novidade para os homens. "Mulheres exigem igualdade", gritavam as faixas.

O discurso ficou mais radical e, de certo modo, mais divertido. Rindo se corrigem os costumes, até os piores. Daí o "Mulheres oprimidas, não façam jantar, matem o rato de fome". O rato, naturalmente, era o marido opressor. Outro enunciado atacava a origem do problema – "Acabe com o sacrifício humano: não se case". Se bem que muito homem empunharia essa bandeira.
Agora, do Canadá à Austrália, da Holanda à Nicarágua, da Índia ao Brasil varonil, é a vez da "Marcha das Vadias". O nome não diz tudo, mas quase. É a luta pelo direito ao avesso. Debocha do deboche masculino, que tenta ridicularizar aquilo que não consegue controlar – seja o seu desejo, seja o seu guarda-roupa.

Tudo começou como reação a um policial canadense que sugeriu: se a mulher não quer ser estuprada, melhor vestir algo comportado. Oi? Ganhou tradução nas ruas de São Paulo, Rio e Brasília o minimanifesto gringo: "Acredite ou não, minha minissaia não tem nada a ver com você" devidamente incorporado à reportagem "Vadia, eu?", que você lê aqui.

Muitas outras palavras de ordem ganharam uma versão brasileira: "Decote não é crime, estupro é", "Meu corpo, minhas regras", "Seja lá o que estou vestindo, sim é sim e não é não", "Na nossa sociedade machista, todas nós somos vadias", "Você tem culhões? Eu tenho coragem". No fim das contas, dá para resumir em uma palavra, que deveria estar sempre em tamanho grande em qualquer tag cloud: "Respeito".

Fernando Luna, diretor editorial
fechar