Diário dos bastidores de Tropa de Elite 2

por Maria Ribeiro
Tpm #101

A convite da Tpm, Maria Ribeiro registrou as cenas mais marcantes do set

 

Hoje é dia 14 de dezembro de 2009 e eu ainda não comprei nenhum presente de Natal. Também não tenho a menor idéia de onde vou passar o Ano Novo e, por incrível que pareça, não estou me importando a mínima com fogos ou festas. Só penso que vou começar, às três da tarde de hoje, a preparação para o filme Tropa de Elite 2. Um trabalho como esse, de construir uma personagem através de você, mas que não é você, já é suficientemente desafiador e instigante. Só que eu ainda conto com os seguintes detalhes:

1 - Estou grávida de oito meses e meio e mal consigo caminhar da minha casa até à padaria da esquina.

2 - Os ensaios serão comandados por Fátima Toledo, temida preparadora de Pixote e Cidade de Deus, com quem já trabalhei no Tropa 1 e por quem nutro profundo respeito.

3 – Não estamos falando de um filme normal, mas de um fenômeno do cinema brasileiro. Um longa que, além das suas qualidades artísticas, expôs questões sociológicas do nosso país, como a corrupção policial e a rotina de guerra dos morros cariocas. E que agora se debruça sobre o poder das milícias no Rio de Janeiro.

Como se não bastasse, ainda temos que trabalhar sob absoluto sigilo, já que o primeiro filme foi pirateado e estima-se que visto por cerca de 11 milhões de brasileiros antes de chegar aos cinemas.

Chego à sala onde vamos ensaiar e reencontro Wagner. Não é só porque trabalhei com ele no primeiro filme que não fico, como qualquer atriz ficaria, encantada com sua presença. Wagner Moura é um grande ator, um parceiro de cena generoso, e, o melhor de tudo, uma pessoa maravilhosa. Mas sua doçura vai pelos ares pra receber Roberto Nascimento.

Antes que essa transformação aconteça, sou apresentada ao nosso filho. Pedro Van Held tem 15 anos e vai fazer Rafael, o filho de Rosane e Nascimento que agora é um adolescente. Na vida real, meus filhos são pequenos, e preciso encontrar uma maternidade diferente. A primeira coisa a fazer é conhecer Rafael, ouví-lo, chegar perto. Pelo menos é assim que funciona pra mim. Quero gostar do ator.

Pronto. No dia seguinte nossa família já existe. É verdade que a experiência do filme anterior ajuda. E, cá entre nós, não é difícil brincar de ser mulher do Wagner. Quer dizer, do Nascimento. Na outra preparação, passamos por tapas e beijos. Precisávamos ser um casal, conhecer o cheiro um do outro. E também tínhamos que conhecer o limite em que os personagens estavam. Rosane defendendo a família, Nascimento mergulhado no Bope.

Nesse filme a história muda um pouco, mas não posso contar... O que dá pra dizer é que um projeto como esse raramente acontece na vida de um ator: bom roteiro, bons atores e um grande diretor.

José Padilha é meu primo. Digo isso com orgulho e também pra avisar que o admiro sem cerimônia. Antes de saber tudo de cinema, Zé me ajudou em vários trabalhos de filosofia e me receitou vários antialérgicos (não sei como ele não é médico). Nas reuniões de família, só dá ele. Inteligente pra caramba. E simples, no sentido mais nobre da palavra. No set, não faz pose de diretor, embora saiba exatamente o que quer dos atores e da cena.

Bom, o filme estreia dia 8. Não vou dizer mais nada. Ainda não vi nenhuma cena. Mas há rumores... Já ouvi que o Seu Jorge está incrível. Que há cenas comoventes. Que o Wagner grisalho é um acontecimento. E que esta atriz que vos fala parece mesmo mãe do menino Rafael. Tomara que sim, porque mais importante do que o frisson que o Tropa possa provocar, é a história que queremos contar. E não faríamos uma sequência se não tivéssemos o que dizer. Missão dada é missão cumprida.

 

fechar