Os extremos da moda

por Paula Bastos

A história de empresárias que, na contramão do mundo fashion, criaram grifes plus size

Duas amigas passeiam por uma loja de departamentos. Enquanto uma se queixa que a modelagem de uma blusa está pequena demais para um 48, a outra resolve passear pela seção infantil na esperança de encontrar uma saia jeans que não pareça ter sido feita para uma menina de 10 anos. Cenas como essa são mais comuns do que imaginamos e todos os dias mulheres que estão em dois extremos circulam pelos shoppings e lojas em busca de peças que sejam de seu agrado e lhes vistam bem.

Cansada de nunca encontrar estampas e roupas mais modernas, a designer gráfica e blogueira Thatiany Garcia resolveu apostar na experiência de mais de 30 anos de sua mãe, a costureira Marina Garcia, para criar a Bem Ditta – marca focada no público plus size lançada virtualmente em março deste ano. “Há muitas mulheres abaixo dos 25 anos usando manequim acima de 50. Os preços das lojas especializadas são altos e a variedade é limitada: são tecidos lisos, listrados ou com estampas florais que remetem ao estilo 'senhora'. Quero roupas joviais e bonitas. Se a aceitação do público for boa, pretendemos oferecer também vestidos, saias, bermudas, biquínis e jeans para essas mulheres que sentem falta de opções”, explica.

Se Thatiany sofre para encontrar roupas que lhe agradem por estar em um dos extremos, a analista de redes sociais Vívian Freitas adoraria ter umas gordurinhas a mais em seu corpo para caber nas roupas que gostaria de vestir. Com 1,60m e 42 quilos, ela usa manequim 34 – que nem sempre é 34, de acordo com suas queixas. “A falta de padrão nas modelagens é péssima. Acabo comprando roupas nas mesmas lojas porque o 34 de algumas fica gigante em mim e por isso também pago mais caro. Calças e saias jeans, camisas e jaquetas são as peças mais difíceis de encontrar. Quero uma jaqueta de couro, mas ainda não encontrei uma que sirva em mim”, desabafa. 

E foi por pensar nos extremos que as gaúchas Thayná Candido e Rosangela Candido resolveram ampliar as numerações da Chica Bolacha há dois anos. A marca vem se tornando uma das preferidas por jovens gordinhas que procuram roupas que saiam do óbvio. “A maior parte das marcas prefere fazer o que parece mais seguro; nós decidimos arriscar, seguindo a contramão. Achamos muito injusto que meninas legais e estilosas não pudessem consumir uma moda mais atual por falta de numeração, por isso passamos a produzir nossa mesma coleção também em versão plus size”, conta. A demanda foi tão grande e fez tanto sucesso que hoje a marca é toda voltada para o segmento, vestindo do 46 ao 54.

Para todas essas mulheres, a queixa é a mesma: falta criatividade e padronização de modelagem na moda nacional. Hoje o mercado está um pouco mais atento ao segmento, mas o Brasil ainda não oferece muitas opções para quem faz o estilo “mignon” como Vívian. Países como os Estados Unidos e diversos outros do continente europeu já oferecem uma linha “petite” para mulheres miúdas.

Às consumidoras basta esperar que em breve as marcas ofereçam mais novidades em linhas especiais ou, então, que peças de algumas coleções sejam produzidas em numerações do PP ao GG para atender a todas as mulheres.

Vai lá: 

Bem Ditta
www.facebook.com/bemditta

Chica Bolacha
ilovemytee.tanlup.com


(*) Paula Bastos, jornalista, é criadora do site Grande Mulheres e colabora semanalmente com a Tpm sobre moda inclusiva. Seu Twitter é o @parispaula

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