por Ariane Abdallah
Tpm #90

Vitória Frate ganhou fama na TV, tem um filme para estrear e nenhum plano pro futuro

Vitória é loira de olhos azuis, mas não é descendente de alemães. Filha de jornalistas que trabalhavam na Globo, nunca sonhou em aparecer na novela. Seu pai chamase Vitor, mas não é por isso que ela se chama Vitória – e sim porque nasceu prematura depois de a mãe já ter perdido um filho. O cineasta Breno Silveira passou batido pelo primeiro teste da atriz quando escolhia o elenco de Era uma Vez., no ano passado. Depois mudou de ideia e a convidou para protagonizar o longa de estreia da carreira dela. Apesar da cara de mocinha, se olhar bem, você vê que, por trás da suavidade de seu rosto, há sobrancelhas grossas, olhos grandes – que ela aprendeu a pintar desde que começou a aparecer em Caminho das Índias – e boca larga, traços típicos de descendentes de albaneses e negros, como ela. Com 1,62 metro de altura, a atriz anda de All Star de cano alto, com os pés apontando para “dez pras duas”. Já fez aulas de circo e pratica ioga desde os 10 anos. Vitória é uma menina de 24 anos “animada à beça”, que toca violão “não muito bem” e escuta Los Hermanos em alto volume. Mas é também a mulher que namorou por dois anos o ator Ângelo Antônio, 20 anos mais velho. E que agora o ensina a lidar com jornalistas, que ligam sem parar desde que os dois não estão mais juntos, há dois meses: “Ângelo, ser sincero com a Caras?”, indigna-se ela, pelo telefone.

Quando é com ela, “me faço de louca”. “Pra que falar? Pra vender revista?” E confessa que no começo do namoro não via problema na diferença de idade. “Depois fez diferença. Não sei se a idade ou o jeito de cada um. Sou movida a paixões, e Ângelo não acredita em paixão”, resume. Quando terminou o namoro, a atriz ligou para o pai, que considera amigo: “Os namorados que Vitória teve são gente boa. Mas gosto mesmo da minha filha, que é como uma lente de aumento. Perto dela, eles se tornam próximos. Longe, são distantes”, confessa Vitor. Vitória fala pelo telefone com o ex, do quintal da casa da avó Delma, em São Paulo. Minutos depois, é servido um banquete vegetariano, porque ela não come carne vermelha nem frango. A atriz, então, se serve antes de todos enquanto dona Delma comenta sobre Caminho das Índias e A Fazenda, da Record. A avó materna de Vitória convive com bastidores da TV desde que a filha, Dilea, foi editora do Jornal Nacional aos 30 anos. Depois, criou, com Jô Soares, o programa dele no SBT e o acompanhou na Globo, de onde saiu em 2008. Antes de casar com Vitor, Dilea viveu com o jornalista Paulo Markun, com quem teve a atriz Ana Markun, dez anos mais velha que a irmã. “Não esperava que Vitória se tornasse atriz. Ela passou a infância de óculos, tímida. É centrada, séria. Mas ela percorria a Globo já na minha barriga e foimamamentada lá dentro”, conta Dilea.

Tênis, paixões e histórias

A Tpm acompanhou uma gravação da novela das oito e, enquanto “Julinha” repetia a ação cada vez que o microfone ou a etiqueta do jeans aparecia no vídeo, Bruna, assistente de figurino, explicava que a atriz “brigou” pelo direito de sua personagem usar tênis. Então, passou a usar menos salto e trocou as peças “rosinhas e azuizinhas” por cores fortes, o que combina mais com Vitória, que teve o cabelo rosa na adolescência.

Na época do cabelo colorido, ela andava rebelde. Foi para Londres duas vezes, estudou fotografia na Nova Zelândia – sonhava em trabalhar na National Geographic – e, entre uma viagem e outra, ficava na casa de uma amiga, no Rio de Janeiro. Com os pais divorciados, a relação com a mãe estava conflituosa. “Meus pais trabalhavam muito, eram ausentes quando eu era criança. Sentia que minha mãe queria tirar o atraso”, conta. Mas hoje as lembranças da infância a fazem rir: “Apagávamos todas as luzes da casa e a família toda [o que inclui a irmã, Ana, e o irmão Vinicius, quatro anos mais novo] dançava Pink Floyd pela casa”. Eles também adoravam pular na piscina de madrugada. “Meus pais eram muito apaixonados. Então, quando a casa caía, caía mesmo!” Durante as brigas, Vitória se trancava no quarto com o irmão para jogar videogame. “Eu queria protegê-lo, assim como minha irmã fazia comigo.” Ana chegou a trabalhar como professora da Escola Nova, onde Vitória estudava, só para levá-la embora todo dia, já que era comum Dilea esquecer de buscar as crianças.

No apartamento que comprou há três anos, no bairro carioca do Jardim Botânico, Vitória estampou, no espelho do lavabo, a frase de Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”. Na sala, sofá, pufe, mesa e piso são brancos. Ela pede que as visitas tirem o sapato, carrega o gato persa como um bebê e pega um cigarro – apesar de não ter fumado o dia todo. “Pois é. Fumo desde os 12 anos, não mais que quatro cigarros por dia.” Já parou várias vezes, a última foi este ano. Mas voltou há dois meses, durante as filmagens do longa, prometido para o ano que vem, Por enquanto, de Matheus Souza, autor que, aos 20 anos, foi adotado por Domingos Oliveira e ganhou respeito com o filme Apenas o Fim.

Agora Vitória é que anda rascunhando possíveis futuras cenas. Ela garante que escrever é só um hábito que tem desde criança – mas não nega que está na fase dos diálogos. Dona Irany, a avó paterna, confirma o talento para a criação: “Quando Vitória era pequena, pedia para eu contar uma história. Eu contava, depois dizia que era a vez dela. E ela inventava mil coisas, tinha uma fantasia impressionante”, se orgulha. Por causa do gosto pelas palavras, Vitória chegou a cursar jornalismo, mas largou a faculdade quando começou a atuar em filmes de amigos, por brincadeira. Resolveu, então, se formar em artes cênicas.

 

Deixo a vida me levar
Esta entrevista acabou à meia-noite, já que amigos e parentes a aguardavam na festa – com fogueira – da casa de Dilea. Vitória vestiu, então, uma camisa xadrez até o joelho e deu seu típico nó no cabelo. “Amanhã vou dormir até duas da tarde!”, comemora a folga. Seus planos não passam daí. “Vejo atrizes sempre cheias de projetos. Eu nunca tive projetos. Já notei que a tendência da vida não é o caos, mas a ordem. Quando estou bem, a vida fica cheia de rima, as coisas simplesmente acontecem.”

Estilo Drica Cruz
Maquiagem Ju Muñoz (ABÁ/MGT)
Assistentes de foto Rafael Mattar e Sara Dalila
Vitória usa vestido 2nd Floor, relógio Nixon
Agradecimento Agência Guanabara
Foto novela Tv Globo/Frederico Rozario
Foto filme Lourenço Parente
Outras fotos Arquivo pessoal

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