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por Caroline Mendes

A banda paulistana lança seu novo disco, Feras Míticas, e a tecladista Irina Bertolucci conta os bastidores para a Tpm

O segundo disco de Garotas Suecas saiu redondinho do forno. Se o primeiro CD, Escaldante Banda, soa mais como um compilado de músicas pensadas e produzidas separadamente – e, sim, ele realmente é –, Feras Míticas amarra começo, meio e fim num álbum de rock brasileiro digno de nota. As referências de Tropicália, Jovem Guarda e funk e soul americanos continuam, mas, desta vez, vêm discretamente incorporadas às características próprias da banda e melhor exploradas. "Deixamos as músicas amadurecerem em vez de usar as primeiras ideias de arranjos que vieram", conta a tecladista Irina Bertolucci, 27 anos, com quem a Tpm bateu um papo. Confira:

Em comparação com Escaldante Banda, o que este disco tem de novo?
As bandas que a gente gosta e ouve ainda são as mesmas e as referências que a gente usou no disco não mudaram muito, na verdade. O que aconteceu foi que a gente deixou entrar coisas que não deixava entrar antes, como a bateria eletrônica e referências do rock brasileiro dos anos 80, Lulu Santos, Marina Lima... Mas Sly & the family Stone, por exemplo, é uma coisa que nunca sai da minha playlist, essa coisa da música negra ainda é muito forte. Acho que o vem de novo é como cada instrumento aparece nas músicas, a gente deixou muito mais espaços vazios nos arranjos em vez de todo mundo tocar tudo ao mesmo tempo. Esse é o grande amadurecimento deste disco, talvez, saber quando não tocar, quando não cantar ou simplificar. 

"Charles Chacal" é uma música dos Titãs que nunca tinha sido gravada e que vocês resolveram colocar no disco. Como vocês descobriram a música e como foi a parceria com o Paulo Miklos?
A gente descobriu a música, meio sem querer, falou com Sérgio Britto e ele liberou a música pra gente gravar. A parceria com o Paulo foi ótima, ele já era relativamente próximo da gente e ficou feliz com o convite, surpreso. Ele tem uma voz inconfundível e entra como um contraponto à letra da musica, ele é a voz da população indignada com aquele personagem tenebroso. 

Paulo Miklos também contou pra Tpm como foi a parceria:

"A canção 'Charles Chacal' fazia parte do primeiro repertório dos Titãs, antes mesmo da gravação do primeiro disco. Ela foi feita pelo Sérgio Britto, meu companheiro de banda, e é inspirada num terrorista internacional que era um figura icônica no começo dos anos 80. Ela acabou não entrando no nosso primeiro álbum por conta da censura que existia na época. Como uma música nossa chamada Bichos Escrotos não passou na censura, a gente achava que Charles Chacal também não ia passar, então não chegamos nem a enviar a canção e ela acabou meio esquecida. Existe um registro, um vídeo no YouTube da gente tocando essa música no antigo programa Fábrica do Som, da TV Cultura, em 1982 ou 1983, e os meninos do Garotas se basearam nele pra fazer o arranjo e ficou ótimo. Eu já conhecia o trabalho deles, sou fã e próximos dos meninos e achei muito bacana poder fazer essa voz da consciência na música, que chama a atenção e repreende o Chacal. Fiz tudo no improviso com eles e acho que o resultado ficou legal."

A capa do disco, o título e a arte têm um significado?
Desde o começo, ficou claro pra gente que o disco giria tematicamente em torno da música "New Country", que fala dessa coisa da cidade, de um lugar novo, enfim, ela apareceu pra gente como uma coisa que poderia guiar o disco. E como é uma música que fala de um lugar desconhecido, ainda inexistente, dos sonhos, o Tomaz (guitarrista) teve a ideia de ilustrar a capa com aqueles mapas que os navegadores faziam antes de descobrir as terras – o mapa da Europa não tinha nada a ver com a Europa, nem as Américas. E os mapas sempre tinham uns monstros marinhos, perigos e maravilhas desconhecidos... E o tema da cidade faz sentido, pra gente. Daí esse foi o ponto de partida para o título, que amarrou tudo.

A maioria das resenhas que saíram na mídia sobre Feras Míticas diz que a banda amadureceu. Vocês se sentem assim, mais maduros, mais profissionais?
Sem dúvida, tanto pelo jeito que o disco foi construído quanto pelas mudanças nas nossas vidas pessoais. As referências que quisemos colocar no disco foram mais bem trabalhadas do que quando fizemos nosso primeiro CD, o Escaldante Banda. Deixamos as músicas amadurecerem em vez de usar a primeira ideia de arranjo que veio, duvidamos da maioria das nossas primeiras escolhas, escolhemos o caminho mais difícil de repensar tudo o que estávamos fazendo. E, querendo ou não, quando fizemos o Escaldante, éramos mais novos, morávamos com nossos pais, essas coisas. A vida foi se organizando, agora temos contas pra pagar (risos). É muito pouco roqueiro falar isso, mas é verdade, nossos objetivos mudaram e nossa relação com a banda também. Isso tudo acabou refletindo nos temas e no jeito de fazer as músicas. 

Vai lá: show de lançamento do disco Feras Míticas com participação especial de Lurdez da Luz, Paulo Miklos e Nick Graham-Smith – dia 15/09, no Auditório do Ibirapuera. www.garotassuecas.com

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