Confeitaria das palavras

Tpm

por Natacha Cortêz

Revista virtual reúne colunistas e conteúdo autoral para os amantes da escrita

De encontros e desencontros, afinidades e conexão mesmo antes da primeira conversa, Fabiane Secches e Flávia Stefani encontraram uma vontade em comum. O resultado foi a Confeitaria, uma revista virtual construída só por colunas e que entrega doçuras e confeitos em forma de escrita. E que mesmo que almeje oferecer fantasia, não se ilude e sabe que no cardápio das palavras, existem das mais doces, quase insuportáveis de manter no céu da boca, até as de difícil digestão, que causam nós na garganta e calafrios no estômago.

O projeto, totalmente independente, sem mídia e sem amarras comerciais, privilegia o autor, o conteúdo subjetivo e a liberdade no formato. “Não há limites de caracteres e todos os formatos são possíveis. De poemas a estudos, é permitido aos autores viajarem sem barreiras. Nosso único desejo é de que sejam textos com alma e opinião. No mais, pouco nos importa a forma que eles cheguem”, comenta Fabiane.

Para a escolha dos confeiteiros, “os autores que gostamos de ler. Alguns que já escrevem em outros espaços, outros que só faltava um espaço para que pudessem escrever mais. São pessoas de formações e interesses completamente diversos, mas uma paixão em comum: o amor pela comunicação escrita”. Por isso, de amigos anônimos a nomes como o escritor Renato Kaufmann, a publicitária Tatiana Giglio e a jornalista Juliana Cunha, a revista dá espaço para ficção, política, opinião, arte, resenhas de moda e devaneios.

Conversamos com as idealizadoras sobre o novo projeto e seu conceito, como elas mesmas dizem, “sempre em beta”.

Como surgiu a ideia de fazer a Confeitaria?
Fabiane: A Confeitaria surgiu de um desejo em comum e de uma amizade bonita. Nós nos conhecemos muito antes de nos conhecer. Fomos aceitas na mesma escola de criação publicitária em São Paulo, só que em anos diferentes. Não nos cruzamos por lá, mas nos esbarramos, por acaso, em Cannes, quando começamos a descobrir mil afinidades. Nunca mais nos desgrudamos, mesmo com a distância física que nos separa (Flávia mora nos Estados Unidos e eu, no Brasil). Flávia e eu sempre sonhamos em escrever juntas. Lembro de devaneios nossos sobre alugar uma casinha na praia e ficar escrevendo um roteiro a quatro mãos... escrever e ler, para a gente, é como tirar férias. Com o tempo, a ideia da Confeitaria começou a aparecer e ganhar força pra gente. Ter o privilégio de conhecer outras pessoas que nos inspiravam e que gostaríamos de ler mais vezes nos fez pensar como seria legal se pudéssemos reuni-las todas em um mesmo lugar.

Por que uma revista só de colunistas?
Flávia: Porque é só o que eu leio na internet. OK, eu leio também entrevistas e acompanho o que as pessoas postam no Twitter, mas é tanta notícia por aí, especialmente nos jornais online, que você fica doido se for acompanhar. Muita coisa é notícia repetida, os jornais se alimentando deles mesmos. Mas o pior, para mim, é você clicar em um link e dar de cara com um relato cru, uma informação vazia. Quer dizer, é importante que alguém faça o relato cru, eu reconheço isso. Só não é importante para mim. Eu gosto é do debate, da pesquisa gigante feita antes do colunista parar para escrever, enfim, eu quero saber a opinião da pessoa. Há quem concorde com a guerra do Iraque, por exemplo, e mesmo que eu seja completamente contra -e eu sou-, tenho interesse em entender o que passa na cabeça de alguém que apóia uma guerra. Fora que colunas onlines quase sempre linkam textos para outras colunas online, então se for um texto bem escrito, você chega ao final tendo aprendido alguma coisa.

Qual o critério para convidar as pessoas que escrevem lá?
Fabiane: Convidamos os autores que gostamos de ler, mesmo quando discordamos de suas opiniões. Alguns que já escrevem em outros espaços, outros que só faltava um espaço para que pudessem escrever mais. São pessoas de formações e interesses completamente diferentes, mesmo, mas com uma paixão em comum: o amor pela comunicação, especialmente a escrita.

Por que uma revista virtual?
Fabiane: A internet é democrática e permite à Confeitaria a independência que gostaríamos que ela tivesse. Cada autor é livre, em todos os sentidos. Não apenas sobre opiniões e estilos, mas também sobre a forma. Não há limites de caracteres, por exemplo, liberdade que uma revista impressa não permitiria.

Vocês se inspiraram em alguma revista, livro ou site pra criar o projeto? Ou existem outras inspirações? Quais?
Flávia: Sim. Eu me inspiro no McSweeneys e no Rumpus Daily.
Fabiane: A Flávia me apresentou o The Rumpus e desde então, eu me apaixonei também. Sempre gostei muito das colunas assinadas de alguns jornais e revistas internacionais e nacionais, como a Trip e a Tpm mesmo (as da Maria Ribeiro, por exemplo, eu adoro) e a antiga "O Homem Sincero", do Fábio Hernandez, na VIP. Eu sempre lia a revista de trás pra frente, começando pelo Fábio. Nós temos ótimos colunistas no Brasil. O Verissimo é colunista do Estadão, imagine isso. O Moacyr Scliar escrevia na Folha, eu sempre fui fã. Grandes escritores e pensadores estão nos nossos jornais, em textos assinados. E existem sim outras muitas referências e inspirações, mas ficaria impossível fazer uma lista de todas elas sem cometer alguma injustiça. Somos a soma do que lemos, e nós duas lemos bastante, então você pode imaginar.

A revista pretende sair do meio virtual?
Fabiane: Por definição, a Confeitaria é uma revista independente e publicada na internet. Mas temos sim planos de fazer edições especiais impressas, coletâneas de textos, quando tivermos volume e oportunidade para isso. Não somos contra o papel. Adoramos nossos iPads e adoramos nossos livros. Acreditamos que os dois podem conviver sem se excluir.

Por que o nome Confeitaria?
Fabiane: É isso, uma brincadeira com as vitrines de doces das Confeitarias, recheadas de cores e sabores tão diferentes, e tão sedutores. A gente mal sabe qual escolher para começar diante delas. Gostaríamos que fosse essa a sensação que os nossos leitores tivessem ao passar pelo nosso índice. É a sensação que eu tenho, hoje, como leitora, e fico muito feliz ao perceber que estamos conseguindo. Mas vale lembrar que a Confeitaria é um bebê recém-nascido, saindo da maternidade, e que o nosso lema é estar sempre em beta. Então, claro, muitas mudanças e novos autores ainda devem vir por aí.

Sempre em beta?
Fabiane: É uma expressão. Quando um produto está em teste, diz-se que é a versão beta. A versão alpha seria a oficial. A beta, a versão que se lançou ainda para fazer ajustes. Como não acreditamos que exista uma "versão final" da Confeitaria, estamos sempre em beta. É isso. É um lema que adoto pra vida também. Quase um Raul Seixas e sua metamorfose ambulante. ;-)

Vai lá: confeitariamag.com / fanpage www.facebook.com/confeitariamag

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