As melhores bundas que já passaram pela Tpm

por Lia Bock
Tpm #151

Fizemos uma retrospectiva com algumas das bundas de homem que estamparam nossas páginas. E aproveitamos para fazer um salve para a bunda sem lipoaspiração, a bunda marota, a bunda de raiz

Pensa numa bunda. O que te vem em mente? Muito provavelmente é a Paola de Oliveira, Kim Kardashian, Nicki Minaj ou Gretchen, dependendo da idade e das referências culturais. Talvez, só talvez, alguém diga Hulk – digamos que o fracasso na Copa tem tentado apagar esta memória. Mas por que ninguém pensa no Paulinho Vilhena ou no Marcos Pasquim? Por que ninguém pensa numa bunda de homem? Aliás, cadê essas bundas que a gente vê tão pouco? Em 1987 Vinícius Manne abalou o horário nobre aparecendo nu com a mão no bolso na abertura da novela Brega & chique. Parecia que daí pra frente veríamos diversas bundas masculinas na telinha. Mas, nada. Entra Carnaval, sai Carnaval e é uma surra de bundas femininas. Começa novela, seriado e dá-lhe meme com bunda de mulher. Quando pensamos em bundas de homem em rede nacional lembramos de Claudio Marzo, no filme Homem nu, de 1997, e de José Wilker em Dona Flor e seus dois maridos, de 1976. Idos do século passado. Se somos o país da bunda, por certo ela tem hidrogel, silicone e dopings afins, usa biquíni coração e nunca viu uma cueca. Uma pena. A bunda do homem é linda e há quem ache até mais interessante do que a das mulheres. “Acho a bunda masculina mais bonita. Tem menos carne, é puro músculo”, diz a fotógrafa Vânia Toledo, autora do livro Homens, que na década de 80 causou furor ao retratar Caetano Veloso e Roberto de Carvalho, dentre outros artistas, nus. 

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É para trazer a bunda masculina para a roda que Tpm resolveu fazer uma retrospectiva de bumbuns publicados em nossas páginas nesses 14 anos. A foto mais antiga é de Supla, que em fevereiro de 2002, no auge da fama gerada pelo fenômeno Casa dos artistas,  estampou nossa capa todo de bundinha de fora. Fotografado por J. R. Duran, ele e uma amiga protagonizaram um ensaio quente.  Perguntado sobre como foi mostrar o derrière, ele avacalha: “Não mostrei meu pinto, então tudo bem. Bunda... grande bosta”, e gargalha ao telefone. “Na época os amiguinhos machistinhas tiraram um sarrinho, mas caguei. Já tinha mostrado a bunda no clipe Encoleirado. Mas, vocês podiam ter apagado uns pelos no Photoshop”, completa. Photoshop é para os fracos, Supla. Nós gostamos da bunda masculina exatamente por ela ser essa peça de resistência, um território intocado que celebra o natural e passa nos testes antidoping. Músculos, pelos, pequenas espinhas e uma cor pura de quem raramente viu a luz do sol. Façamos um salve para a bunda sem lipoaspiração, a bunda marota, bunda de raiz. 

Mas, como o mundo não é perfeito – é machista e desigual –, muitas de nossas bundas oferecem apenas uma vista limitada do cofrinho. Por quê? O que a bunda do homem tem que não podemos ver? O fotógrafo Jorge Bispo, que já clicou alguns ensaios para a Tpm, como o de Paulo Vilhena, pondera: “Homem, mulher... pra mim é tudo bunda. Mas o machismo faz com que a sociedade tenha, erradamente, no imaginário que expor essa área é coisa de gay”. A fotógrafa Autumn Sonnichsen concorda: “Quando fotografo homem percebo que muitas vezes existe a preocupação de ‘não ficar muito gay’. Isso absolutamente não existe com as mulheres”. Mas de onde veio essa preocupação, Brasil? Todo mundo tem bunda e orientação sexual não muda de acordo com as vestimentas, ou a falta delas. Vânia busca uma explicação. “Historicamente o corpo do homem sempre foi alvo de repressão e considerado feio. Isso só começou a mudar com a liberação homossexual. E foi aí que a bunda do homem, obviamente um fetiche gay, começou a aparecer mais. Daí a deturpação de que mostrar a bunda  ‘é meio gay’. O pudor masculino ainda está para ser vencido.” A antropóloga Mirian Goldenberg pondera, acha que hoje já existem muitos modelos alternativos de masculinidade. “Já vejo  vários homens trabalhando a bunda e várias mulheres se atraindo por ela. Diria que ainda é apenas uma tendência, mas vejo um movimento de desestigmatização do homem que trabalha a bunda.”

Aqui, vale lembrar uma das máximas da Marcha das Vadias: “O corpo é meu e faço com ele o que eu quiser”. Criada para as mulheres, nesse caso ela vale também para os homens. Rapazes, bora mostrar a bunda sem se preocupar com o que ‘os vizinhos vão pensar’? Mas por que, afinal, os homens se ressentem tanto em mostrar as nádegas? Carol Quintanilha arrisca uma resposta. Ela clicou alguns ensaios para Tpm,  Mohamad (ex-participante do Masterchef  que não topou mostrar o bumbum) e Julio Andrade (que mostrou tudo): “Tanto homens como mulheres estão sempre querendo construir uma imagem. Mas acho que o homem tenta passar uma mais ampla. Eles querem parecer inteligentes e interessantes. Já nós, no geral, estamos mais preocupadas em ficar lindas e sexy. E o que é isso se não o resultado direto da sociedade? Para uma mulher ‘ficar bem na foto’, pode bastar uma bela bunda. Para o homem,  não. Por quê? Pode ser a exigência feminina sobre eles ou, mais provável, apenas a constatação de que as mulheres ficaram acomodadas no papel de Cinderela”. Abaixo a Cinderela! Todo mundo baixando as calças agora!

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