A mulher invisível

por Fernado Luna
Tpm #99

Advinha quem é essa mulher finíssima que anda com bolsa Louis Vuitton e óculos da Gucci

 

Logo no início do último filme de Atom Egoyan, Chloe, que por aqui ganhou nome de novela, O Preço da Traição, dois casais jantam em um restaurante bacana. Entre um prato e outro, observam o salão em volta e decidem brincar de "spot-the-hooker", algo como "encontre a prostituta".

 

Fácil. Basta procurar, entre ternos e vestidos habillés, alguém com salto 12, microssaia de oncinha, top branco dois números menor do que o razoável, maquiagem colorida como a bandeira do México e cabelo platinum blond. Hum, nada por ali. Nem por aqui.

Melhor olhar de novo. A profissão mais antiga do mundo foi renovada. Se bem que, se a prostituição tivesse sido mesmo a primeira profissão do mundo, não haveria ninguém para pagar por ela. Enfim. Garotas de programa de luxo, como as da reportagem "The Girl Next Door", preferem Daslu em vez de Daspu.

Nem adianta ver se elas estão lá na esquina, rodando bolsinha. Até porque elas não usam bolsinha. Acessório de acompanhante VIP é bolsa Louis Vuitton, Gucci, Marc Jacobs. Muito caro? Bem, um programa com elas sai por até R$ 3 mil a hora. E tem sempre um senhor que ajuda, com presentinhos de grife para rechear o armário.

Elas não colam adesivos toscos em telefones públicos. Sheila loura escultural, faço gostoso, venha me pegar? Ingrid, iniciante, meiga e carinhosa, confira? É engano. Ninguém encontra o telefone delas por aí, nem na internet. Sem trocadilho (só um pouco), elas trabalham na base do boca a boca. Um cliente indica outro.

Se você já viu uma prostituta, então não viu essas. Elas são invisíveis. O principal valor dessas garotas de programa de luxo é justamente não se parecerem com garotas de programa. São mulheres que poderiam ter feito faculdade com você por quatro anos, sem dar bandeira. Algumas talvez tenham feito mesmo.

Como A Dama das Camélias versão 2.0, elas sonham com um Armand, rico e compreensivo, para casar. Se não funcionar, tentam ao menos juntar uma boa grana e partir para outra, antes que fiquem velhas demais para o trabalho. Afinal, tudo na vida tem um fim, até Lost.

 

 

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