por Micheline Alves
Tpm #145

Esta edição mostra as mais diversas mulheres que exercem o direito de chegar aonde desejam

Para Chieko, presidente de uma grande rede hoteleira, poder é ter influência. Para Cindy, superpublicitária, é ganhar exatamente o que você merece - e se sair bem numa negociação com o chefe. Para Alice, poetisa, o poder que importa é o da palavra, que faz pensar e abre possibilidades. Para Raquel, uma das lideranças que colocaram em curso a legalização da maconha no Uruguai, poder é transformar a sociedade. Para Andrea, uma mineira nascida em berço político que hoje coordena a campanha do irmão à presidência da República, é a capacidade de vencer adversários. Para Débora, do movimento Mães de Maio, poder é superar a dor e lutar contra a violência que extermina os jovens negros das periferias. Para a cineasta Vera, é ser livre: não se deixar oprimir ou amedrontar.

Que poder temos - e que poder queremos ter - é uma questão que por muitas vezes foi discutida nesta revista ao longo de seus 13 anos. Não faz muito tempo que, trazendo a superstar Ivete Sangalo na capa, Tpm  perguntava se existe mesmo o jeito feminino de exercer liderança, tão celebrado hoje no mundo do trabalho (mundo este em que mulheres ainda ganham menos que homens, especialmente em cargos de maior... poder). Nesta edição, produzida a poucos meses do processo eleitoral que vai colocar novas (ou não tão novas assim) figuras em cargos do Executivo e do Legislativo, voltamos ao tema Poder com uma dose um pouco mais forte de política.

Faltam mulheres na política brasileira, dizem os dados. Hoje elas são 11% dos prefeitos, 8,7% dos deputados federais e 7,4% dos governadores. Ainda que tenhamos uma presidente (ou presidenta, como prefere a própria) e um número de ministras "nunca antes reunido na história do país", a representação é baixa. A criação de cotas para candidatas mulheres nos partidos não resolveu o problema: o mais comum é que as legendas apenas joguem na disputa um sem-número de "laranjas" que os ajudam a cumprir a lei, mas estão longe de trazer para o debate as questões que importam.

Mas aí vem outra boa pergunta: só mulheres podem defender os interesses da população feminina? Parlamentares homens que brigaram por muitas conquistas "nossas" mostram que não. Figuras históricas e masculinizadas como a britânica Margaret Thatcher confirmam uma equação bem mais complexa. Por outro lado, como defende Patrícia Rangel, da organização CFEMEA, na página 53, a inclusão de uma massa crítica feminina nesses cargos faz diferença, sim.

Esta edição reflete sobre todas essas coisas. E mostra as mais diversas mulheres - Chieko, Cindy, Alice, Raquel, Andrea, Débora, Vera, Patrícia, Mel, Maria Alice e muitas outras - exercendo, cada uma do seu jeito, o direito de chegar aonde desejam. Talvez esteja aí uma boa definição de poder.

Micheline Alves, diretora do núcleo Trip Tpm

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