La Bomba de Tiempo

por Ana Manfrinatto

Deixei o preconceito de lado e fui conferir a batucada

Confesso que eu tinha preconceito contra batucada de branco. Afinal de contas eu sou brasileira e são anos e mais anos de carnaval da Globo, de blocos no Rio de Janeiro, de ensaio do Vai-Vai todo domingo e de muito Ó do Borogodó. É por isso que eu, repito, tinha preconceito em relação a toda e qualquer batucada de branco.

Aqui em Buenos Aires tem muita batucada por aí. Por exemplo, todo fim-de-semana rolam uns grupo de murga (ritmo uruguaio) ensaiando pelas praças. E eu acho quase legal. Legal porque é batucada. Quase porque falta cadência. E isso sem falar nas festinhas. Sempre que eu ouço a palavra “festa” seguida da palavra “tambor”, eu tremo. Tudo isso porque eu já imagino várias meninas requebrando (de saia branca rodada e nenhuma negritude) e eu sambando meu miudinho mequetrefe ali no canto e recebendo elogios.

Ou seja: assumo meu preconceito. E é justamente por carregar este sentimento purista e nada nobre dentro de mim que eu sempre me neguei a conhecer La Bomba de Tiempo, grupo de batucada que faz o maior sucesso aqui em BsAs. Em julho do ano passado eu deslizei e quase fui conhecê-los mas acabei sendo salva pelo gongo porque a fila estava imensa e minha turma não entraria a tempo. Acabamos num bar peruano dançando ao som de uma rockola (jukebox em argentinês) e logo fomos a uma festa num clube social para aposentados.

Mas isso são outros quinhentos. O que importa é que depois de dois amigos do trabalho dizerem “Tenés que irte a La Bomba porque está buenísimo”, eu resolvi encarar essa parada. E é óbvio que eu gostei. Seguindo a minha máxima de “se me fez eu dançar então eu gosto”, a Bomba é o que há! A batucada é tamanha e tão forte que tem horas que parece trance, tem horas que parece drum ´n bass, tem horas que parece rock ´n roll. Porque os caras exploram e brincam com os instrumentos ao máximo.

2 horas. 17 percussionistas. Tudo improvisado. Transe total.

Essa viagem por ritmos através de tambores me fez lembrar os anos hippies da faculdade em que eu fazia aula de dança afro e sabia pelo menos o passinho básico do maracatu, do coco, do cavalo-marinho, do boi. Relembrei e pratiquei todos eles! Dá pra suar a camisa e voltar pra casa meio quilo mais leve. Uma verdadeira maravilha para começar a semana, porque La Bomba de Tiempo acontece às segundas-feiras no Konex.

Uma dica é comprar os ingressos com antecipação não somente porque custam mais barato, mas também porque o lugar fica lotado e a fila dobra o quarteirão. Me atreveria em dizer que 80% do público é formado por estrangeiros – a quantidade de idiomas falados naquela fila não deve nada à uma reunião da ONU!

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