Quanto o Joey Ramone morreu um amigo, abaladíssimo, falava por telefone. “Eles sempre estavam lá. Eu me separava, mas os Ramones estavam lá. Eu mudava de cidade, os Ramones estavam lá. Tudo mudava. Mas eles sempre estavam lá.” Na época eu ri. E rio até hoje porque o E. é gênio. E lembrei disso na tarde de quarta feira quando li na internet que o REM tinha acabado.
Eu morava no Rio, era adolescente, eles estavam lá. Lembro do Michael Stipe mudando de camiseta várias vezes em um VMA quando ainda não era moda usar camisetas com mensagens. Mudei para São Paulo. Veio o Up. Eles estavam lá. Não sei quantas vezes chorei ouvindo “Walk Unafraid” em uma época em que era realmente difícil andar sem medo. Mantra. No diskman. Aí eu descobri outro dia que esse também era o disco deles preferido do Helio Flanders. E a gente passou a se falar usando frases do Up.
Fui para Berlin. Voltei de Berlin com o coração partido de saudades. Ouvi “Uberlin” e chorei muitas vezes. “Caramba, era aquilo mesmo que eu vivi, andando na neve. Ele falou do MEU metrô”. E isso é engraçado, porque lá em Berlim eu ouvi muito REM. “Radio Free Europe”, do terraço da casa da minha prima, olhando a torre de televisão, absolutamente feliz.
Há pouco tempo, um abuso. Uma história péssima com um cara estúpido. Fui para a praia no mesmo dia ouvindo “Bang and Blame”. Aquela música. salvou a minha vida por dois dias. E quando um ex reapareceu, comecei a ouvir “Walk it Back”. Andar para trás. Humm.
Aí, eu estava aqui, trabalhando, sentada em frente ao computador e o REM acabou. Logo todo mundo começou a ser blasé na internet (talvez a internet tenha deixado as pessoas mais blasés). “Ah, era só uma banda, era hora de acabar, que se dane o REM.” Que se dane nada. A banda do meu coração acabou e deixou um vazio gigante.
Não sou crítica de música. Não sou enciclopédica. Não sei o nome de todos os álbuns. Sei que sou uma pessoa que ainda fica triste porque uma banda acaba. E, sinceramente, não consigo achar isso ruim.
