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Para mexer as cadeiras

por Mara Gabrilli

’’Dançar sempre foi uma de minhas paixões. Hoje, resgato esses movimentos com a ajuda de uma cuidadora e algumas gambiarras’’

"Estou sambando com todos os movimentos que consigo achar no meu corpo. Pendurada no teto por um colete, de braços para cima, dançando e sorrindo , começo a cantar".

Essa foi a descrição de um vídeo que fiz enquanto sambava ao som de Burguesinha, do Seu Jorge, em mais uma das sessões de dança que tenho feito em casa.

Dançar sempre foi uma de minhas paixões. Quando morei fora do Brasil, aprendi a sambar para esquentar o corpo em noites muito frias. Além de me aquecer, me divertia. Hoje, resgato esses movimentos com a ajuda de uma cuidadora e algumas gambiarras que crio em casa mesmo.

Para qualquer lugar que você andar em meu apartamento verá ganchos nas paredes e barras no teto. Com essas adaptações consigo suspender meus braços com tiras de tecido, o que tira a ação do atrito e da gravidade e torna possível não só me mexer, como buscar movimentos mais funcionais.

Dia desses meu amigo de longa data, o Mansur, me fez uma visita enquanto eu praticava uma dessas estripulias. Não deu outra: ele me puxou e ficamos horas relembrando o tempo que saíamos para dançar a noite toda.

A dança tem essa coisa de nos aproximar das pessoas e nos fazer entender o tempo de cada uma. Foi incrível reviver essa parceira com meu amigo depois de cadeirante e ver que ainda temos a sincronia de décadas atrás... Ele foi embora de casa com a camisa pingando, embalado por um novo ritmo que criamos naquela tarde.

Pendurada por um colete ao teto, posso ficar em pé e dançar impulsionada por alguém que me puxa pelos quadris ou pelos braços. Ou pelos dois...  Você não vê, mas nesse vídeo aí do post tem alguém me dando uma mãozinha para o molejo acontecer. Nessas horas qualquer paralisia fica imperceptível. Prova de que o ritmo e o movimento são inerentes ao ser humano. 

Evaldo Bertazzo, grande professor de dança aqui no Brasil, diz que todos nós somos cidadãos dançantes. E não é que é verdade mesmo?  A dança vem de dentro para fora. Basta buscar na sua memória corporal. Pé de valsa ou não, em algum momento você dançou. Se não o fez ainda, fica aqui o convite de uma tetra dançarina.

A sensação que a dança me proporciona é deliciosa. Sem falar dos benefícios que ela traz para qualquer pessoa: melhora na flexibilidade, equilíbrio, tonificação... E o melhor de todos: liberdade para falar com o corpo o que está sentindo para o mundo.

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