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Os tetraplégicos também andam

por Mara Gabrilli

’’Mesmo sem movimentos do pescoço para baixo, andar continua sendo uma atividade que faz parte da minha rotina’’

Foram mais de 100 km corridos e 20 horas para compor uma listinha de autoajuda.

Em 1990, depois decorrer uma ultramaratona de 101 km que durou mais de 20 horas, resolvi compilar tudo o que a experiência me agregara em uma carta dedicada a minha amiga Juliana.

Alguns anos depois, em um momento muito mais difícil, dentro de uma UTI, sem conseguir falar, respirar sozinha e me mexer da cabeça para baixo, a Juliana senta ao pé da cama do hospital e começa a ler uma carta.

Cada frase atravessava meus pensamentos e tinha um impacto profundo no pensamento seguinte, como se aquilo fosse uma receita de grandes possibilidades que até então ninguém tinha me entregue ainda. Tudo isso sem me recordar de forma alguma daquele conteúdo.

Animada, perguntei sobre a autoria daquela carta cheia de energia. Fiquei surpresa quando a Ju falou: "A carta é sua, amiga!"

Hoje, passado vinte anos desse episódio, ainda me sinto uma maratonista. Mesmo sem movimentos do pescoço para baixo, andar continua sendo uma atividade que faz parte da minha rotina.

Além de trabalhar a ossatura, a Lokomat - esse aparelho de robótica que uso aí na foto - ajuda na parte muscular e nas conexões nervosas, circulação, amplitude dos movimentos e, claro, me deixa feliz. É uma descarga de autoestima! 

Freud utilizava a caminhada como um exercício a ser aplicado na terapia. Enquanto andamos oxigenamos nosso cérebro e as ideias fluem. Resultado: saúde física e mental.

Vale a pena correr atrás de qualquer prejuízo, por mais irreversível que pareça ser. A resposta para se superar sempre está em nós mesmos.

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