O casamento que sempre sonhei

por Clarissa Corrêa

E a realidade que me surpreendeu

Sempre fui muito sonhadora. Por favor, não me culpe. Tenho a desculpa de ser mulher, ter hormônios que fazem borbulhas de amor pra me encantar e, ainda, tentar dar conta de tudo ao mesmo tempo. Se bem que, honestamente, já desencanei daquela velha história de ser super hiper mega power mulher. Não tenho tempo pra isso. O tempo que resta depois de trabalhar, estender a roupa, lavar a louça, arrumar a cama, tomar banho, ir ao supermercado, decidir o que vai ter para o jantar, cozinhar, resolver pepinos, fazer um carinho na cadela e namorar um pouco o maridão eu uso pra fazer as unhas e cuidar de mim. Me sinto bem quando tiro as pontas duplas, estou sem olheiras, passo um blush que dá aquele ar “sou saudável” e respiro sem sentir um peso nas costas. Então, se por ventura tem coisa pra fazer e eu não estou com vontade, paciência. A coisa não vai fugir. Mas no outro dia, inevitavelmente, a minha vontade tem que aparecer. É que não existe mágica, infelizmente.

No meio dos meus sonhos, tcharam, ele. Lindo, inesquecível, fenomenal. Meu casamento. Eu vestida de noiva, aquele frio na barriga, chuva de pétalas de rosas, bolo com 4 andares. E o noivo, claro. No melhor estilo esse-cara-sou-eu. Então, acordei. E vi que na prática o som do violino é diferente. Às vezes, as pessoas resolvem morar juntas e tudo fica muito bem desse jeito, obrigada. Um tempo depois, essas mesmas pessoas decidem ei-vamos-oficializar-as-coisas. Conta aqui, conta ali, ei-será-que-não-é-melhor-fazer-algo-bem-íntimo-e-uma-super-viagem? Sim, é. Então, meu casamento foi diferente dos meus sonhos. Mesmo porque nos meus sonhos, com 30 anos eu já estaria casada e com filhos lindos, rosados e bochechudos. Casei com 31, numa cerimônia linda, inesquecível e fenomenal para 50 pessoas, apenas nossos familiares. Não teve igreja, padre ou pastor, mas um celebrante. Eu, com um vestido preto, aquele frio na barriga, minha sobrinha jogando pétalas no caminho até o local da cerimônia, bolo de 2 andares. O noivo foi um cara de olhos verdes, barbudo, que fez meu coração disparar quando disse, alguns anos antes, que queria namorar comigo, que a vida dele ficou melhor depois que me conheceu e que não imaginava ficar velhinho sem a minha mão enrugada ao lado da dele. E foi tudo lindo. Depois, ficamos vinte e três dias viajando pela Europa. Também casamos em Paris, só nós dois num cruzeiro com jantar. O barco ia bem devagar pelo rio Sena, ficamos ao ladinho da torre Eiffel toda iluminada. Inesquecível, lindo mesmo. A realidade pode ser diferente do sonho e, ainda assim, surpreender pelo encanto. O noivo não é o esse-cara-sou-eu. É melhor, porque é de verdade. E é cheio de falhas, que me tiram do sério.

Quis colocar o nome do meu marido. Sei que hoje em dia quase ninguém coloca, mas eu quis. Dá uma sensação boa de pertencimento. Soa antigo, eu sei. Mas sou antiga mesmo, assumo. Sei que “bem casado é quem bem vive”. Também sei que morar junto é ser casado de coração. Mas eu queria casar no papel, na cerimônia, na comemoração com a família. Queria casar casada. Na prática nada mudou, a não ser meu nome e nossas alianças carésimas. Antes eu não conseguia dizer “meu marido”, pois morava junto e achava estranho. Agora eu consigo. E é bom dizer isso. Sou super romântica, então faço surpresinhas, jantares e tudo mais. Acho que um relacionamento, além de admiração, respeito, confiança, troca e amor precisa ter surpresa e cuidado.

Conheço mulheres que não querem casar, preferem namorar. Ele na casa dele, ela na dela. Outras preferem morar junto, não sentem a necessidade de oficializar. Acho que cada um vive como acha melhor, como se sente bem. O que é bom pra mim pode não ser pra você. O grande problema hoje em dia é que ainda existe aquele fantasma da mulher solteira. Parece que o homem pode ser um solteirão de 40 anos e a mulher não. Epa, é quarentona e nunca foi casada? Ih, será que tem algum problema? A sociedade cobra que a gente tenha uma família.

Tenho uma amiga que tem a vida profissional que sempre quis, terminou uma relação, quer se apaixonar de novo, mas não quer filhos, pois não curte a ideia de ser mãe. E isso é muito natural hoje em dia. Algumas mulheres não sentem a necessidade de ter um bebê. Mas creio que a maioria tem a necessidade de ter alguém. Acho que a vida é mesmo melhor a dois.

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