Eu, Nina L, era dependente do hype

por Nina Lemos

Sim, eu tinha que ir no lugar mais cool, não podia perder aquele show no SESC Pompéia. Até que ano passado tive uma iluminação. Estou tão limpa que posso até participar da olimpíada hipster fazendo arremesso de ray ban!

Há alguns anos, um evento tradicional acontece em Berlim: a Olimpíada Hipster. Os esportes praticados na competição do ano passado foram, por exemplo, arremesso de iphone e cabo de guerra com calças skinny emendadas. Ainda não sei se estou pronta para rasgar meus jeans skinnys, mas cada vez acho mais que estou em um processo de preparação para os Jogos Hipsters.Estou em concentração, treinando há uns anos, e agora pronta para ser campeã.

Atenção, a Olimpíada Hipster não é feita para ou por hipsters. Ela é feita para sacanear os hipsters (e não vou contar mais porque eu estarei lá esse ano em um maravilhoso esforço de reportagem). Aguardem.

O que eu posso dizer até agora. Acho que eu posso ganhar a Olimpíada Hipster. Eu sou uma ex viciada em hype em constante tratamento. Berlin sempre foi meu Rehab. E lembro exatamente do momento do ano passado (ou retrasado?) na minha temporada de peregrinação espiritual em que disse para o meu amigo M, que me conhece muito bem: estou livre, estou livre do hype! Eu gritava isso pela casa. Ridiculo. Eu sei. Mas foi sério. Foi um momento de iluniminação onde eu saquei que:

Eu não era mais dependente da opinião dos outros.

Eu não precisava ser a mais moderna, a mais incrível e a mais inteligente.

Eu não precisava ser genial o tempo inteiro.

Eu não precisava conhecer todos os lugares mais foda, ter ido aos shows onde todo mundo vai e ter estado lá porque, olha, todo mundo estava!

Basicamente, eu estava for a da competição. Atenção, essa competição talvez fosse comigo mesma. Mas eu tenho muitos amigos que eu amo muito que ainda são sim, dependentes do hype. É uma vida marcada por competiçao.

Você tem que conhecer o bar mais MAIS underground.

Ir ao parque MAIS legal.

Ir na festa MAIS louca.

Conhecer a loja MAIS bacana.

Enfim, você esta competindo o tempo todo.  Eu nunca fui hipster, calma. Eu nem tenho idade para isso. Mas eu fui, sim, viciada em hype.

Viciada em ter os amigos MAIS legais.

Estar saindo com um cara MUITO cool.

Viciada em TER QUE IR NAQUELE SHOW DO SESC POMPEIA.

Viciada em ir em alguns lugares onde eu nem queria ir PORQUE TODO MUNDO IA.

E em sair bem na foto, mostrando um estilo de vida assim, incrível de tão louco.

Como eu larguei o vício? Provavelmente eu cresci. Mas sair de São Paulo me ajudou porque me deu uma mudança de pespectiva. Lembre-se, um alcoólatra tem que ficar longe dos outros alcoólatras. Isso ajuda. Também larguei o vicio porque estava cansada dele, como o fumante que joga fora o maço de Marlboro fora meio com ódio de ser dependente daquilo

Berlin é a terra dos hipsters, mas eu posso dizer com certeza absoluta que não sou um deles. Nem quero, nem gosto deles, tenho preconceito. Também não quero ser a pessoa que mais conhece a cidade (uma competição exaustiva. Então, aviso aos amigos, eu nunca fui no clube About Blank, eu não vou no restaurant badalado (nem sei qual é) ou nas festas da escola de arte que eu nem sei o nome. Entao, não esperem muito de mim quando me visitarem. :-)

Como eu parei de competir, acho que estou mais que pronta para participar de uma competição de verdade, jogar iphones  e óculos rayban longe. Se é para competir, bem, que pelo menos seja em uma gincana de verdade! 

 

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