Dez mil ainda é pouco!

por Milly Lacombe

Jair Bolsonaro terá que pagar R$ 10 mil à deputada Maria do Rosário por dizer, que não a estruparia porque ela não merecia

Se um bêbado, saindo cambaleando de um bar, tivesse dito isso a qualquer mulher já seria motivo de indignação e revolta, mas que um deputado tenha dito isso em plenário deixa tudo ainda mais vulgar, absurdo e grotesco. Fosse um país sério, regido por pessoas de bem, Bolsonaro seria expulso da Casa. Mas não somos, e a sentença deixa isso muito claro.

Semana passada, outro homem cujo perfil faz par com o de Bolsonaro, Eduardo Cunha, foi indenizado em 50 mil reais por Cid Gomes, que disse que preferiria ser mal educado do que acusado de achaque.

Então a sugestão de que Cunha é achacador é cinco vezes mais grave do que dizer a uma mulher que ela não merece ser estuprada.

Apenas o ato de colocar lado a lado as palavras merecimento e estupro deveria ser crime, e crime caro. Mas uma justiça patriarcal não vai jamais ver as coisas dessa forma.

Virginia Woolf disse que o fascismo é a derradeira expressão de uma hierarquia patriarcal, e ela tinha razão. Todos os dias podemos ver arranjos fascistas sendo tomados como naturais. Que um deputado possa sair com uma pena simbólica depois de dizer a uma colega que ela não mereceria o estupro é a prova disso. O fascismo se manifesta de várias formas, e as mais nocivas são as menos barulhentas.

"Desde que numa sociedade existam homens que estão acima de outros homens, e todos eles acima das mulheres, desde que uma enorme disparidade financeira e de poder exista, fascismo é parte do Estado e da estrutura familiar", escreveu J. Ashley Foster.

Jair Bolsonaro é dessas figuras que envergonham a raça humana. Infelizmente ele nasceu em solo brasileiro e é capaz de angariar votos suficientes para se eleger. Que mulheres continuem votando nele é uma coisa que eu jamais entenderei.

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