Quebra de silêncio

por Camila Eiroa

Em São Paulo, lei que proíbe a revista vexatória já deveria estar valendo. Esposa e irmã de dententos escreve para a Tpm contando sua experiência antes das visitas

Em julho de 2014 a Alesp [Assembleia Legislativa de São Paulo] aprovou a lei 15.552/14, que proíbe a revista vexatória no estado. Promulgada pelo governador Geraldo Alckmin em agosto, a revista íntima com atos abusivos como agachamentos e exames clínicos deveria ser extinta no sistema prisional de São Paulo no prazo de 180 dias, como alternativa, scanners e detectores de metais seriam colocados nas cadeias. No entanto, denúncias mostram que a prática continua sendo executada.

Abaixo, irmã e mulher de detentos conta sua experiência durante as visitas que faz a presídios da Grande São Paulo.  

"Tenho 29 anos e frequento presídios desde 2011 para visitar meu irmão, e há quase dois  anos para visitar meu marido. É uma rotina muito cansativa. Embora a visita seja apenas  aos finais de semana, a preparação começa no meio da mesma.

Preocupação com alimentos, roupa padrão para poder entrar na cadeia e muita paciência para não perder o controle com as funcionárias (que muitas vezes são bem folgadas) são algumas das coisas principais a se fazer.

Depois de uma longa viagem pra chegar aos presídios, ainda fico quase 4 horas em pé na fila que se forma na porta da unidade. A comida é revistada, os funcionários reviram toda ela com talheres e sem nenhuma higiene. Deixamos a sacola com os alimentos com eles e vamos para a fila da REVISTA ÍNTIMA.

Aí começa o horror.

A funcionária manda três, quatro, ou até mesmo cinco mulheres entrarem de uma só vez no guichê para serem revistadas. Nós, que somos visitas e nos organizamos sempre para irmos às cadeias, dizemos uma a outra: "olha, ninguém fica me olhando na hora da revista, hein?"

E assim segue, a funcionária começa a fazer sua função.

- Senta no banquinho! Tira toda a roupa! Abaixa três vezes! Balança o cabelo! Abre a boca, ouvido, sola do pé, chinelo! Faz força! Coloque a mão na vagina e abra! Agora tira a roupa da criança!

Não é difícil ouvir um 'olha, você vai ter que voltar pra casa, não fez o procedimento direito'. 

Já presenciei muitas mulheres voltarem chorando para casa. É triste. Ali se vai todo nosso tempo perdido, comida feita volta pra onde veio e o horror da revista íntima fica na cabeça.

Eu enxergo tudo isso como um VERDADEIRO ESTUPRO do ESTADO.

Embora a lei que proíbe a revista vexatória tenha sido aprovada e promulgada em São Paulo pelo governador, nem tão cedo ela entrará e vigor. E sabe o por que? Porque para o ESTADO, os presos têm que ser abandonados, esquecidos pela própria família. Esse é o motivo para tantos obstáculos.

Tanto meu marido, que está na unidade prisional de Suzano, quanto meu irmão que está em Guarulhos (ambas na Grande São Paulo), tiveram audiência e ainda estão aguardando sentença. Só que essa sentença nunca chega."

*Ela não quis se identificar.

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